Vantagem de Hollande
sobre presidente foi inferior a 2 pontos; extrema-direita fez 18%
Pela primeira vez desde
1958, um presidente francês que busca a reeleição ficou em segundo no lº turno:
com 27,1% dos votos, Nicolas Sarkozy foi superado por François Hollande, que
teve 28,6%. Mas o presidente conservador aposta nos eleitores de Maríne Le Pen,
de extrema-direita, que alcançou mais de 18% dos votos, para inverter o quadro
no 2º turno, em 6 de maio, e começou a cortejá-los com um discurso
anti-imigração. O socialista Hollande, por sua vez, obteve apoio velado de Jean-Luc
Mélenchon, da extrema-esquerda, 4º colocado, que pediu a seus eleitores que
derrotem Sarkozy. Pesquisas sobre o 2º turno dão hoje ampla vantagem a
Hollande.
Sarkozy
se agarra à direita
Presidente francês corteja eleitores de Marine Le Pen para reverter derrota
para Hollande
Deborah Berlinck
Ao vencer o primeiro turno da eleição presidencial francesa, o candidato do
Partido Socialista (PS), François Hollande, deu um importante passo em sua
ambição de comandar a sexta maior economia do mundo nos próximos cinco anos,
batendo o presidente conservador Nicolas Sarkozy por 28,8% a 26,1%. Mas a
vitória veio acompanhada de uma má surpresa: a extrema-direita de Marine Le
Pen, líder da Frente Nacional (FN), superou todas as expectativas ao conquistar
o seu maior apoio até hoje num pleito presidencial, 18,5%.
Isso aumentou as chances de Sarkozy na disputa do segundo turno, em 6 de
maio, embora as pesquisas hoje indiquem uma vitória com folga para Hollande, de
54% contra 46%. O campo situacionista se surpreendeu com este novo cenário e
não perdeu tempo. Logo após a divulgação das primeiros resultados, o
presidente-candidato e os porta-vozes de seu partido, o UMP, adotaram o
discurso que vai marcar sua campanha nas próximas duas semanas: uma guinada
para a direita.
- As pessoas expressaram um voto de crise que dá testemunho de suas
preocupações, seu sofrimento e sua ansiedade em face do novo mundo que está se
formando. Esta eleição é sobre o respeito às nossas fronteiras, os controles à imigração
e a valorização do trabalho e da segurança. Neste mundo que muda tão
rapidamente, a preocupação das pessoas sobre a preservação de seu modo de vida
é a questão central desta eleição . Eu faço um apelo a todos os franceses que
colocam o amor à pátria acima de suas preferências partidárias, a se unirem a
mim. Viva a República! E viva a França! - disse Sarkozy, ovacionado no Palácio
da Mutualité, em Paris.
Diante dos militantes em Tulle, na região da Corrèze, Hollande acusou o
presidente de fazer o jogo da extrema-direita e de ser responsável pela alta
votação da FN, e apelou para a união das forças de esquerda para o segundo e
decisivo turno. Lembrou que mesmo nas eleições de 2002, quando a
extrema-direita chocou o país ao alcançar o segundo turno e deixar de fora o
candidato socialista Lionel Jospin, o partido nunca havia obtido tantos votos.
- Este é um novo sinal que chama a um sobressalto na República - disse para
seus militantes.
Em contraste com o discurso nacionalista de Sarkozy, Hollande ressaltou a
importância de sua eleição para a recuperação da economia europeia e global.
- Minha tarefa final , e eu sei que estou sendo observado bem além de nossas
fronteiras, é colocar a Europa de volta na trilha do crescimento econômico e do
emprego - afirmou.
Pior desempenho de um governante
Com os resultados de ontem, Sarkozy se tornou o primeiro presidente
candidato a um segundo mandato, no período da Quinta República, iniciada em
1958, a não vencer o primeiro turno da eleição. Para reverter a atual vantagem
de Hollande, além do apoio da ultradireita, conta com a confrontação direta com
seu adversário.
- Essas próximas duas semanas devem permitir a vocês fazer uma escolha com
clareza. Eu proponho que três debates sejam organizados. Sobre as questões
econômicas, as questões de sociedade, as questões internacionais - sugeriu.
Hollande recusou. Foi definitivo ao afirmar que não aceitará mais do que um
debate entre os dois candidatos, "para durar o quanto for preciso".
A partir de agora, a vitória dependerá do apoio que esquerda e direita
conseguirão dos partidos que ficaram de fora do segundo turnoe, principalmente,
dos eleitores dessas legendas. Marine Le Pen se tornou uma peça fundamental
para as pretensões de Sarkozy. Mas a nova líder da extrema-direita, que ontem
superou a votação de seu pai, Jean-Marie Le Pen, no pleito de 2002 (16,9%),
manteve o suspense. Ela se autoproclamou "chefe da oposição", e disse
que somente em 1º de maio, Dia do Trabalhador, cinco dias antes da votação
decisiva, anunciará sua indicação de voto para o segundo turno. As primeiras
sondagens apontam que 60% dos eleitores da extrema-direita votarão em Sarkozy
no segundo turno, e 18% escolherão Hollande. Essa migração não é suficiente
para reverter a vantagem do socialista, que conta com a adesão quase total dos
eleitores de outros candidatos de esquerda.
O principal deles, Jean-Luc Mélenchon, teve um desempenho abaixo do
esperado. Nas pesquisas, ele brigava cabeça a cabeça pelo terceiro lugar com
Marine, mas na votação acabou num distante quarto, com apenas 11,7% dos votos.
Visivelmente decepcionado com seu desempenho, Mélenchon evitou citar ontem o
nome de Hollande. Mas fez um forte apelo a seu eleitorado para derrotar
Sarkozy, e frisou, sem pedir nada em troca:
- Eu peço a vocês para não hesitarem, peço para que se mobilizem e façam
como se se fosse um voto para que eu ganhasse a eleição.
Entre outros nomes da esquerda, a ecologista Eva Joly (2,3% dos votos)
manifestou seu apoio nominal ao candidato socialista para o segundo turno.
De maneira vaga, o centrista François Bayrou, do MoDem, que obteve 8,8% do
total de sufrágios - menos do que o previsto pelas pesquisas -, disse apenas
que "assumirá suas responsabilidades" para a fase final do pleito. Em
relação aos simpatizantes de seu partido, a partilha, ainda segundo as
pesquisas, é igualitária: 50% para cada um dos candidatos.
O temor de uma anunciada fraca participação dos eleitores neste primeiro
turno não se confirmou. Os franceses se mobilizaram para votar no domingo, com
um índice de abstenção de 20%, pouco acima dos 16,2% registrados no primeiro
turno de 2007, mas abaixo dos 28,4%, em 2002, e dos 21,6% de 1995.
Jean-Claude Gaillardon, de 61 anos, aposentado há seis meses, considerou o
resultado "excelente":
- A única chance para Sarkozy era vencer o primeiro turno. Democracia é
alternância. É a alegria que volta para nós depois da vitória de François
Mitterrand, em 1981 - disse, otimista, em meio a celebração militante em frente
à sede do PS, na rua Solférino, na capital francesa.
O entusiasmo não é partilhado por Norah, de 73 anos, também na comemoração
socialista:
- Vejo com muita preocupação a escassa margem de avanço neste primeiro
turno. É pouco para assegurar a vitória no segundo turno.
Nada está decidido, afirma chanceler
No quartel-general da campanha de Sarkozy, os fiéis escudeiros do UMP
respiravam aliviados com o resultado bem menos catastrófico que o previsto
pelas sondagens, que apontavam vantagem de até cinco pontos para Hollande e
cerca de metade dos votos para a esquerda. O chanceler Alain Juppé festejava
que "nada está decidido". Mas como disse a professora de história
aposentada Françoise M., de 65 anos, a batalha ainda está "longe da
vitória".
- É preciso que ele (Sarkozy) dê uma guinada para a direita em todos os
temas, levando em conta a importante votação de Marine Le Pen. É a última
chance para a França e para os franceses - avaliou.
Amélie Pochouny, de 28 anos, é funcionária da Disneilândia de Paris, com uma
remuneração mensal de 1.180, pouco menos que um salário mínimo.
- Não fossem Mitterrand e a esquerda, talvez eu tivesse um trabalho melhor
na Disneilândia... Talvez tivesse feito melhores estudos... Talvez ganhasse
mais hoje.
FONTE: O GLOBO
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