Investigações de CPI sobre atuação de Carlinhos Cachoeira no órgão podem
atingir Palácio do Planalto
Eugênia Lopes
BRASÍLIA - Governistas e oposicionistas estão convictos de que o Palácio do
Planalto acabará atingido pelas investigações que a CPI do Cachoeira
dificilmente deixará de fazer sobre obras executadas pelo Departamento Nacional
de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
Principal braço do Ministério dos Transporte, o órgão deverá ser alvo de
apuração porque o ex-diretor Luiz Antonio Pagot acusou assessores do Planalto
de atuar para derrubá-lo, supostamente deixando vazar informações de interesse
da organização do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
A avaliação é que, diante das declarações de Pagot, não há como evitar sua
convocação para depor na CPI. O ex-diretor do Dnit afirmou, em entrevista ao
Estado, que o subchefe de Assuntos Federativos da Secretaria de Relações
Institucionais, Olavo Noleto, e o porta-voz da Presidência da República, Thomas
Traumann, repassaram dados de reunião sigilosa da presidente Dilma Rousseff com
a cúpula dos Transportes, em 5 de junho de 2011.
Pagot alegou que, como diretor do Dnit, afetou interesses da Delta
Construções, o que teria motivado retaliação do grupo de Cachoeira que
culminaria em sua demissão. "As declarações do Pagot são um sintoma de que
as pessoas começam a falar quando estão com receio", observou o líder do
DEM na Câmara, Antonio Carlos Magalhães Neto (BA).
Enquanto a oposição se prepara para convocar Pagot e, dessa forma, tentar
atingir o Planalto, os governistas alegam não ter muito a fazer. "Como não
deixar convocar o Pagot?", disse um aliado, ao observar que vai funcionar
"uma CPI do Dnit dentro da CPI do Cachoeira".
Um dos alvos da oposição é a empreiteira Sanches Tripolini, que teria
conquistado um volume significativo de contratos no Dnit. O avião da
construtora também teria sido utilizado pelos hoje ministros Paulo Bernardo
(Comunicações) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil), durante a campanha de 2010. Essa
notícia começou a circular em agosto do ano passado. Na época, em nota, o casal
negou que tenha usado a aeronave durante a campanha de Gleisi ao Senado.
Relatoria. A CPI do Cachoeira deverá ser instalada na quarta-feira. Tanto
governo quanto oposição pretendem receber, primeiro, toda a documentação das
operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal. Só então serão convocados os
envolvidos no esquema do contraventor. "No primeiro momento vamos
organizar o time para não ser uma CPI contra o governo", afirmou o líder
do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP). Ele quer anunciar amanhã o nome do relator
da CPI.
Um dos cotados é o ex-líder Paulo Teixeira (SP), que está na Itália e deverá
chegar hoje ao Brasil. O nome de Odair Cunha (PT-MG) começou a ser bombardeado
pelos aliados com o argumento de que ele não conseguiu impedir a convocação da
ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, na Comissão de
Fiscalização Financeira e Controle da Câmara, há duas semanas.
Lideranças dos partidos da base não escondem a preferência pelo ex-líder do
governo Cândido Vaccarezza (PT-SP) para a relatoria. Mas seu nome não seria
considerado o ideal por Dilma.
Aliados também não escondem a preocupação com a eventual derrota do governo
na votação do Código Florestal, prevista para quarta-feira.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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