Raymundo Costa e Fernando Exman
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff está decidida a evitar que a
instalação da CPI do Cachoeira paralise a agenda do governo e atrapalhe a
tramitação dos projetos de interesse do Executivo no Congresso. Nesta semana, a
presidente protagoniza uma maratona de eventos públicos pelo país. Em outra
frente, os líderes do governo no Parlamento terão a missão de assegurar a
aprovação das propostas consideradas estratégicas pelo Palácio do Planalto. A
CPI deve começar os trabalhos na quarta-feira e terá seis meses de duração, com
o término previsto coincidindo com o fim da campanha eleitoral.
A partir de agora Dilma disputa a atenção da imprensa e da população com a
CPI que investigará as ligações de agentes públicos e empresas com o suposto
esquema ilegal de jogos de azar chefiado pelo empresário Carlos Augusto Ramos,
o Carlinhos Cachoeira. Os holofotes estarão mais voltados a eventuais
irregularidades praticadas por empreiteiras e empresas contratadas pelo governo
do que ao cumprimento do cronograma de obras, entregas de moradias do Minha
Casa, Minha Vida ou divulgações dos resultados do programa Brasil Sem Miséria.
Os auxiliares da presidente recorrem a uma imagem para explicar o esforço do
governo. Quando ocorre uma enchente, dizem, deve-se construir a contenção em
volta da casa. É isso que faz Dilma: mostrar que o governo continua governando,
independentemente da CPI. Além disso, Dilma tem procurado se informar sobre os
contratos de empreiteiras supostamente ligadas a Cachoeira, como a Delta
Construção, com o governo, especialmente no PAC.
Dilma avisou os ministros que a CPI não deve servir de justificativa para a
paralisação do governo, e alertou que continuará convocando os subordinados
para reuniões no Palácio do Planalto e cobrando as ações deliberadas
anteriormente. Segundo a presidente, a partir da instalação da CPI há uma pauta
política. Mas a pauta executiva deve continuar andando.
Nos próximos dias a presidente deve participar, em Sergipe, da cerimônia de
anúncio do acordo entre a Vale e a Petrobras para a exploração de uma mina de
carnalita - minério do qual se extrai cloreto de potássio, matéria-prima para a
produção de fertilizantes. Ela também deve divulgar um reforço no Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC) da Mobilidade Urbana. "Vamos botar o bloco
na rua", diz um auxiliar de Dilma, que em geral é mais comedida que seu antecessor
em matéria de marketing.
Na quinta-feira, a presidente irá ao Rio de Janeiro para realizar duas
atividades. A primeira será uma cerimônia de balanço do Brasil Sem Miséria,
programa considerado como uma das meninas dos olhos do governo Dilma. A segunda
será uma visita a São João da Barra, para "faturar" a celebração da
extração do primeiro litro de óleo feito pela OGX no Porto do Açu.
No âmbito político, depois que ministros petistas tiveram reuniões com o
presidente do PT, Rui Falcão, e se envolveram na disputa interna pelo cargo de
relator, Dilma pediu para o primeiro escalão do Executivo não se envolver de
corpo e alma nos assuntos da CPI. A presidente negou, a auxiliares, que tenha
articulado uma operação abafa, diz acreditar na separação entre os Poderes e
que é legítimo o Legislativo criar uma comissão para investigar
"malfeitos". Por outro lado, não quer perder a bandeira da
moralidade, que vem contribuindo para os altos índices de aprovação da
presidente junto ao eleitorado. Tanto que nos avisos aos ministros é sempre
lembrado que "cada um cuida da sua vida", um alerta de que não
protegerá quem tiver envolvimentos com irregularidades apontados pela CPI.
A CPI deve será instalada na quarta-feira, um dia depois de os líderes
partidários indicarem seus integrantes. Nesses dois dias o governo terá também
uma prova dos desafios que enfrentará no Congresso durante os próximos meses. O
Senado, por exemplo, deve votar amanhã a Resolução 72, que tenta acabar com a
chamada "guerra dos portos". O governo também tenta acelerar a
tramitação da Lei Geral da Copa. Na Câmara, as atenções se concentrarão nas
discussões sobre o relatório do Código Florestal, do deputado Paulo Piau
(PMDB-MG).
"Vamos selecionar as matérias mais importantes", comentou o líder
do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). "CPI sempre
drena muito o trabalho. Então, nesse momento avalio que vamos ter que trabalhar
mais."
FONTE VALOR ECONÔMICO
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