Ex-assessor da Presidência afirmou que R$ 98,5 mil recebidos em 2003 eram para pagar serviços nas comemorações da vitória de Lula
Fernando Gatto, Fausto Macedo
O ex-assessor da Presidência Freud Godoy afirmou em ju¬nho de 2010 que os R$ 98,5 mil que recebeu de uma empresa de Marcos Valério em janeiro de 2003 se destinavam a pagar serviços de segurança que prestou ao PT em novembro e dezembro de 2002. Conforme revelou o Estado, Valério sus¬tentou à Procuradoria-Geral da República que repassou a uma empresa de Freud cerca de R$ 100 mil, na mesma épo¬ca, para pagar despesas pes¬soais do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Freud declarou que os servi¬ços foram prestados em eventos que o partido promoveu para co¬memorar a primeira vitória de Lula nas urnas, em outubro do ano anterior.
"Nos meses de novembro e de¬zembro houve vários eventos de comemoração que o Partido dos Trabalhadores fez, e quando che¬gou em janeiro, tínhamos um sal¬do, um valor para receber, que estava em atraso do Partido dos Trabalhadores", relatou ele à CPI da Bancoop, que funcionou na AssembleiaLegislativadeSão Paulo na última legislatura. "Foi pedido que essa empresa SMPB pagasse à Caso Sistema de Segu¬rança. A Caso foi paga pela SMPB, pelos eventos que foram feitos na época."
A Caso Sistema de Segurança é uma empresa de vigilância de propriedade da mulher de Freud, Simone, e do cunhado, Kleber, mas na prática é coman¬dada pelo ex-assessor de Lula. A SMPB, por sua vez, é uma das agências de publicidade de Valé¬rio que compuseram o valerioduto e irrigaram o mensalão.
No depoimento à CPI, Freud reconheceu que não trabalhou para a agência de publicidade de Valério. "Não prestamos serviço à empresa dele diretamente", sustentou. Não foi, contudo, in¬dagado pelos deputados porque recebera da agência de publicida¬de, e não diretamente do PT, a quem prestara o serviço. Tam¬pouco deu detalhes.
O ex-assessor também não foi questionado sobre os motivos de ter sido uma outra empresa chamada Caso, também de sua propriedade, a receber pelos tra¬balhos de segurança, e não apro¬pria empresa que em tese pres¬tou o serviço: o depósito foi cre-ditado na conta da Caso Comér¬cio e Serviços, de propriedade de Freud e da mulher.
A empresa, segundo Freud de¬clarou à CPI da Bancoop, é de pequeno porte e tentava entrar no "ramo de clubes", para traba¬lhar com limpeza de piscinas. "Era uma outra empresinha que a gente tinha, que era Caso Co¬mércio de Serviço. A gente esta¬va criando para entrar no ramo de clubes, porque a gente estava tomando conta de um clube na época, e ia tentar trabalhar com produto químico, piscina e tal."
Foi então questionado pelo de¬putado Bruno Covas (PSDB): "Uma empresa de produto quí¬mico, de piscina, prestou serviço de segurança na campanha?". Freud respondeu: "Sim", e con¬firmou que o trabalho foi feito "de forma irregular", porque ne¬nhuma das duas empresas esta¬va habilitada pela Polícia Fede¬ral para oferecer serviços de se¬gurança, uma exigência legal.
A Caso Comércio e Serviços foi fundada em 1998 e ainda está ativa. Tem capital social de R$ 10 mil e Freud como sócio majoritá¬rio. Ela fica em um apartamento em um prédio no bairro do Paraí¬so, zona Sul de São Paulo.
O depósito destinado a Freud foi identificado em 2005 pela CPI dos Correios, mas só veio à tona depois que o então assessor de Lula se tornou conhecido, quando foi envolvido no chama¬do "escândalo dos aloprados". Ele foi acusado de ter ordenado a compra de um dossiê contra tu¬canos que seria usado nas elei¬ções de 2006. Contudo, nunca foi indiciado, nem pela PF1, nem pela CPI dos Sanguessugas.
Freud não estava na empresa ontem à tarde e não retornou as ligações e nem o e-mail encami¬nhado pela reportagem. Anteon¬tem, ele negou à TV Globo que tenha recebido R$ 100 mil de Marcos Valério: "Não tem ne¬nhum dinheiro na minha conta nem na conta do presidente".
Ele afirmou que iria processar o empresário pelas declarações da¬das ao Ministério Público. "Que¬ro ver ele provar isso", disse o ex-assessor de Lula.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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