Governistas rechaçam a investigação das denúncias de Marcos Valério contra o ex-presidente Lula, mas aprovam convite a FHC para explicar supostos casos de corrupção ocorridos na década de 1990.
A tática do deboche
Em resposta às investidas da oposição contra Lula, governistas tripudiam ao convidar FHC e Roberto Gurgel a depor no Senado sobre a suposta lista de Furnas e Carlinhos Cachoeira
Paulo de Tarso Lyra, Denise Rothenburg, Vera Batista
Em uma atitude que beira a zombaria, o PT aprovou ontem um convite para que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso compareça ao Senado Federal e explique a suposta lista de Furnas Centrais Elétricas. A relação, divulgada na década de 1990, conteria o nome de diversos doadores de campanha que financiaram o PSDB, especialmente antes da reeleição de Fernando Henrique, em 1998. "Eles não querem pegar o Lula? Por que acham absurdo nós convidarmos o FHC para nos explicar as razões de seu partido estar envolvido com essa lista?" indagou, com um sorriso irônico, o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), em uma referência à pressão dos oposicionistas após as novas denúncias feitas pelo empresário Marcos Valério contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a respeito do mensalão.
A aprovação ocorreu na Comissão Mista de Controle de Atividades de Inteligência, que não integra o rol de colegiados permanentes e precisa ser "provocada" para se reunir. E a sessão de ontem foi articulada pela oposição, que tentou aprovar os convites para que a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, e a ex-titular do gabinete da Presidência da República em São Paulo Rosemary Noronha comparecessem para dar explicações sobre a Operação Porto Seguro. Todos os requerimentos foram derrubados.
Com maioria folgada — o governo tem quatro dos seis membros titulares —, não foi preciso sequer o voto de desempate do presidente da Comissão, Fernando Collor de Mello (PTB-AL). A resposta à oposição deixou explícito o improviso dos governistas, pois o requerimento de convite a FHC não estava incluído na pauta original da comissão. A proposta de inclusão do tema foi feita de última hora por Jilmar Tatto.
O deputado petista justificou o pedido com um argumento inusitado: a necessária transparência no setor elétrico. "Estamos em um momento no qual a presidente Dilma Rousseff tenta diminuir as contas de luz, mas o PSDB, principalmente nos estados que governa — São Paulo, Minas Gerais e Paraná — impede que a população seja beneficiada."
Único tucano presente na comissão, o deputado Mendes Thame (SP) espantou-se com a proposta. "Por que não chamar os ex-presidentes das estatais? Seria a mesma coisa que eu pedir para convocar o senador Fernando Collor para explicar as razões definidas por ele para abrir o mercado nacional aos produtos estrangeiros", comparou. Por alguns segundos, Collor ficou em suspense, de olhos arregalados.
Logo depois, Collor conseguiu apoio dos governistas para convidar o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, para que ele explique as razões na demora da denúncia contra o bicheiro Carlinhos Cachoeira com base nas Operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal. Por pressão da oposição, Gurgel escapou de ser indiciado na CPI do Cachoeira, que, repleta de impasses, nem sequer teve o relatório final aprovado por deputados e senadores. O PT ainda tem outro motivo para pressionar o procurador-geral: o partido não engole a atuação dele na denúncia do mensalão, julgado pelo Supremo Tribunal Federal.
A estratégia adotada ontem foi a primeira do rolo compressor governista após Marcos Valério fazer novas denúncias ao Ministério Público. Segundo o empresário, Lula teve parte das despesas pessoais pagas pelo esquema do mensalão e o PT cobrava uma espécie de "pedágio" das agências que prestavam serviços ao Banco do Brasil. O presidente da República em exercício, Michel Temer, minimizou as acusações de Valério. "Não entendo por que, agora, ele veio a público com essas informações, se, no passado, quando perguntado sobre o assunto, ele falou justamente o contrário", destacou Temer. O governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), foi ainda mais incisivo: "Esse senhor é um pilantra condenado a 40 anos de prisão e quer manchar a história do maior presidente da história do Brasil".
Porto Seguro no STF
A Justiça Federal em São Paulo encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF), à Procuradoria Geral da República e à Câmara dos Deputados parte do processo da Operação Porto Seguro, no qual há indícios de envolvimento de autoridades com prerrogativa de foro privilegiado. O material foi entregue por Adriana Freisleben de Zanetti, juíza substituta da 5ª Vara Criminal, que não revelou quem seriam as autoridades investigadas. A operação, desencadeada pela Polícia Federal no fim de novembro, desbaratou um esquema de tráfico de influência que tinha como uma das integrantes a ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo Rosemary Nóvoa Noronha.
Fonte: Correio Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário