José Eduardo Cardozo, Gilberto Carvalho e Paulo Bernardo tentaram desqualificar depoimento de Valério
Ministros petistas receberam ordens do Planalto para sair em defesa do ex-presidente Lula. Um dia depois de a presidente Dilma classificar de "lamentáveis" as denúncias de Marcos Valério que envolvem Lula no esquema do mensalão, reveladas pelo Estado, Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência), José Eduardo Cardozo (Justiça) e Paulo Bernardo (Comunicações) desqualificaram as declarações. "Do ponto de vista jurídico, isoladamente, esse depoimento não tem nenhum significado", disse Cardozo. Carvalho classificou as denúncias de "desespero oportunista" e "indignidade". "O presidente Lula teve a sua vida privada invadida, examinada, atacada com lupa e até hoje não apareceu nada e não vai aparecer nada", afirmou. Bernardo disse que as denúncias devem ser analisadas com cuidado. Em Paris, Lula criticou a imprensa.
Ministros saem em defesa de Lula e tentam desqualificar Marcos Valério
Vamiildo Mendes João Domingos Rafael Moraes Moura
BRASÍLIA - A partir de ordens da presiden¬te Dilma Roussefif, os ministros do PT saíram ontem em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e iniciaram uma ação coordenada a fim de ten¬tar desqualificar o depoimento prestado em 24 de setembro pe-lo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza à Procuradoria-Geral da República.
O primeiro a se manifestar foi o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidên-cia), que aproveitou um café da manhã com jornalistas para di¬zer que Lula, de quem foi chefe de gabinete, não compactua com qualquer tipo de malfeito (mais informações abaixo).
Logo em seguida, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardo¬zo, desqualificou o depoimento dado ao Ministério Público Fede¬ral pelo empresário, que acusou o ex-presidente Lula de ter dado "ok" a operações bancárias para financiar o mensalão e de ter usa¬do dinheiro do esquema para custear despesas pessoais.
Dilma já havia defendido o ex-presidente. "Considero lamentá¬veis essas tentativas de desgastar a imagem do presidente Lula", afirmou a presidente em viagem em Paris, onde se encontrou com o antecessor e padrinho político.
"Do ponto de vista jurídico, isoladamente, esse depoimento não tem nenhum significado", afirmou ontem Cardozo.
Segundo o ministro, as revela¬ções de Valério foram feitas "sem prova alguma", por alguém numa situação de desespero, após ser condenado a mais de 40 anos de prisão no julgamento do Supremo Tribunal Federal. "É uma peça produzida por uma pessoa processada e condenada a muitos anos de prisão. Foi feita exclusivamente na tentativa ou de tumultuar o processo, ou de negociar a redução de sua pena."
Cardozo deu as declarações após participar da solenidade de lançamento da Escola Nacional de Mediação e Conciliação, cria¬da pelo governo federal em coo¬peração com o Poder Judiciário, para reduzir o volume de deman¬das que abarrota a Justiça e facili¬tar a solução negociada de confli¬tos entre as partes. O ministro acusou a oposição de tirar provei¬to político da situação.
"É natural que o debate se colo¬que por setores da oposição, que até agora não tem um discurso muito claro em relação a propos¬tas para o País", disse. "Ao se uti¬lizar disso, (a oposição) tenta exercitar sua retórica política, nada mais", afirmou o ministro.
Sem inquérito. Cardozo disse ainda que não vê razão para a Po¬lícia Federal, de ofício, abrir in¬quérito com base nas declarações de Valério ao Ministério Pú¬blico. "Foi um depoimento dado à Procuradoria-Geral da Repúbli¬ca. O que vai ser feito em relação a ele, só o Ministério Público, no momento apropriado, dirá", afir¬mou. "Só então será definido se é o caso de abrir um inquérito, ou se será feito o arquivamen¬to", disse o ministro.
Na terça-feira e ontem, o Esta¬do revelou detalhes do depoi¬mento de três horas e meia pres¬tado por Valério à subprocurado¬ra da República Cláudia Sampaio e à procuradora da República Ra¬quel Branquinho. O operador do mensalão afirmou que dinheiro do esquema foi usado para pagar parlamentares do Congresso Na¬cional entre 2003 e 2005 e tam¬bém serviu para bancar "despe¬sas pessoais" do ex-presidente Lula. O dinheiro foi depositado, disse Valério, na conta de uma empresa de Freud Godoy, que foi assessor pessoal de Lula.
Outro ministro que também fez a defesa de Lula foi Paulo Ber¬nardo (Comunicações). Para ele, tudo levar a crer que Marcos Valério pode estar desesperado.
"É uma pessoa que foi conde¬nada, que pode estar desespera¬da, levantando essas questões aí, acho que elas deveriam ser anali¬sadas com mais cuidado", disse o ministro a jornalistas, ao parti¬cipar da cerimônia de posse do novo presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), o minis¬tro Augusto Nardes.
Questionado se as investiga¬ções não deviam ser aprofunda¬das, Paulo Bernardo respondeu: "Olha, eu acho que as investiga¬ções não pararam, faz dez anos que tem investigação sobre isso, né? Pelo menos nesses casos que vi citados rapidamente, não vi novidade nenhuma".
Confiança. Paulo Bernardo ain¬da disse que fica "com a palavra" de Paulo Okamotto, diretor do Instituto Lula e amigo do ex-pre¬sidente - Okamotto negou ter feito ameaças de morte contra o empresário.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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