Ex-presidente diz que CPI em ano eleitoral é "mortal"
- Valor Econômico
Coube ao ex-presidente a iniciativa de tocar no assunto. "Você é a nossa candidata, e nós vamos ganhar com você", disse Luiz Inácio Lula da Silva à presidente Dilma Rousseff, na longa conversa que tiveram na sexta-feira, em São Paulo. "Eu vou ser seu maior cabo eleitoral", afirmou também.
Esse foi o tom que Lula imprimiu à conversa, mas o ex-presidente não dourou a pílula. Disse que a situação não era boa, razão da queda de Dilma nas pesquisas de opinião, pediu atenção da presidente para a economia, especialmente a inflação.
Depois de tranquilizar a presidente sobre a troca do candidato do PT, Lula deu alguns conselhos à sucessora. O primeiro deles: fazer o que for possível para evitar a instalação da CPI da Petrobras. "Faça tudo para não ter CPI", foram as palavras de Lula, segundo relatos da conversa que chegaram ao PT e partidos aliados. Para o ex-presidente, CPI já é uma coisa muito ruim para o governo; em ano eleitoral, pode ser "mortal".
Lula não quer a instalação da CPI nem que ela seja ampliada para investigar supostas irregularidades no porto de Suape (PE) e na compra de equipamentos para o metrô de São Paulo, uma tentativa do PT para constranger o PSDB do senador Aécio Neves e o PSB do ex-governador Eduardo Campos, os dois principais pré-candidatos da oposição à Presidência da República.
O segundo conselho de Lula a Dilma: dar poder efetivo para o novo ministro da Secretaria das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, aquietar a base do governo no Congresso. Os instrumentos da SRI são conhecidos: liberação de verbas orçamentárias para as emendas dos parlamentares, cargos na administração direta e nas estatais e entendimento sobre os projetos na pauta de votações do Congresso.
Antes da conversa com Lula, a presidente já havia outorgado a Berzoini poderes que a ex-ministra Ideli Salvatti não tinha na coordenação política do governo. Dilma convidou o deputado numa conversa de cerca de 40 minutos de duração. Berzoini respondeu "tudo bem", disputaria a reeleição para deputado, em outubro, e no dia 1º de janeiro de 2015 se apresentaria para assumir um ministério.
Dilma entendeu o que estava nas entrelinhas, mas, a seu estilo, foi direta ao ponto: precisava do deputado já. A presidente assumiu o compromisso de que o deputado continuará ministro em eventual segundo mandato.
Berzoini ainda queria esclarecer ainda a questão do "Aloizio". Referia-se ao chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Nove em dez petistas apostam que a trombada entre ambos é só uma questão de tempo. Dilma respondeu ao deputado que ele, Ricardo Berzoini, ficaria encarregado da coordenação política. Mercadante toca o governo.
Lula pediu para Dilma atenção às questões econômicas. O ex-presidente da República disse que está preocupado com o recrudescimento da inflação. O quarto e não menos importante conselho à presidente é para ela "sair às ruas". Lula tem experiência de sobra em CPI em véspera de eleição; também não esquece que ele foi o principal defensor de seu governo quando esteve encurralado pelo escândalo do mensalão.
A conversa do ex-presidente com Dilma não deve parar com o "Volta, Lula", que pode se tornar irresistível na medida em que a presidente perder pontos nas pesquisas. O relato da conversa chegou aos aliados no Congresso e não convenceu muita gente do fim do movimento queremista. O entendimento é que o desmentido de Lula parece protocolar e sem o ímpeto de campanha que teve em outras ocasiões.
A queda de seis pontos percentuais de Dilma no Datafolha alimenta o "Volta, Lula", mas, a rigor, Dilma continua vencendo no primeiro turno e os pontos que perdeu não foram para os candidatos da oposição. O professor da Universidade de Brasília David Fleischer, um dos mais conceituados cientistas políticos da capital, diz que todos os pretendentes ao Palácio do Planalto, no momento, carregam uma nuvem escura sobre a cabeça.
A nuvem de Dilma, além dos problemas conhecidos - desconfiança com o futuro da economia e a CPI da Petrobras - tem a probabilidade de um apagão (46%, segundo consultores do setor privado) e protestos mais violentos na Copa do Mundo; Eduardo Campos tem muito trabalho pela frente para tirar votos de Dilma no Nordeste, ainda o maior reduto eleitoral da presidente, e incorporar totalmente os votos de Marina Silva; Aécio Neves não decolou e agora tem sua principal marca, o choque de gestão, posto em dúvida pelo Supremo Tribunal Federal, que considerou ilegal a contratação de 98 mil comissionados sem concurso público em Minas Gerais.
No rastro das denúncias de irregularidades na Petrobras, o ex-presidente da estatal José Eduardo Dutra (2003-2005) apresentou-se à atual presidente da companhia, Graça Foster, propondo-se a ajudar no que fosse preciso. Dutra, que foi senador, presidente do PT e integrou a coordenação da campanha da presidente Dilma, na eleição de 2010, sugeriu a criação de um pequeno grupo de gerenciamento da crise. Para sua surpresa, Graça Foster limitou-se a perguntar: "Crise, que crise"?
Lula e o PT de São Paulo temem a repercussão negativa da gestão do prefeito Fernando Haddad sobre a candidatura de Alexandre Padilha ao governo do Estado. O que ninguém fala é da participação do PT e do governo federal nos resultados do prefeito. Dilma prometeu renegociar a dívida dos Estados e municípios e deu pra trás; ela e Lula pediram para Haddad recuar no aumento da tarifa de ônibus, no início de janeiro. Deu no que deu em junho. Haddad preparou uma forte campanha publicitária para atacar as críticas de Paulo Skaf ao aumento do IPTU. As peças foram para o lixo por decisão do PT e do Planalto, que não queriam criar problemas com o PMDB.
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