• Se a população está certa ao ver em Dilma a representante dosbanqueiros, então ela quer tirar a comida dos pobres?
- O Globo
Dos três principais candidatos a presidente, quem melhor representa o interesse do setor financeiro? Pensou em Marina, por causa da defesa da independência do Banco Central? Ou no tucano Aécio?
Pois errou. Ou, pelo menos, você não pensa como a maioria do povo. Para os eleitores, a principal representante do interesse dos bancos é Dilma Rousseff. Está lá na pesquisa Ibope divulgada ontem. Nada menos que 39% dos entrevistados respondem assim. E apenas 20% acham que Marina melhor representa os interesses do setor financeiro.
Não deixa de ser embaraçoso para Dilma, pois ela vem dizendo que os bancos são os piores inimigos do povo e que, dominando o Banco Central, eles simplesmente vão tirar a comida da mesa do povo.
Logo, se a população está certa ao ver em Dilma a representante dos banqueiros, então seria ela quem na verdade quer tirar a comida da mesa dos pobres?
De outro lado, no que é um conforto para ela, a presidente Dilma também aparece como a candidata que melhor representa o interesse dos trabalhadores (45%) e dos pobres (44%).
O que pode levar a outra conclusão: se o povo vê em Dilma, igualmente, a melhor representante dos banqueiros, dos pobres e dos trabalhadores, então está dizendo que não há incompatibilidade entre os interesses desses três, digamos, grupos sociais.
Vai daí que essa maioria não pode acreditar que os bancos querem tirar a comida da boca do povo. Portanto, por esse lado, esse pessoal não acredita na propaganda de Dilma. Ou ainda não acredita.
Forçando a barra?
Claro, mas também seguindo uma certa lógica eleitoral, especialmente vista na campanha da presidente Dilma. Se ela está certa, então o povo está errado em algum ponto: ou Dilma não representa os banqueiros ou não representa os trabalhadores e os pobres. A presidente tem dito e repetido que são interesses incompatíveis, mas o eleitor a coloca como tripla representante.
Ficamos, portanto, com uma bela confusão, e que era de se esperar. Dilma disse, por exemplo: "Esse povo da autonomia do Banco Central ... quer fazer um baita ajuste, um baita superávit, aumentar os juros para danar..."
Ora, a presidente Dilma vem de elevar a taxa básica de juros de 7,25% para nada menos que 11%. Isso foi um aumento danado, não foi? E, se os bancos gostam de juros altos, como diz a presidente, então ela dá uma baita mão aos bancos.
Dirão: não foi ela quem subiu os juros, foi o BC. Só faltava essa: seria o BC de Dilma independente? Pois acreditem, a própria presidente disse isso no início de seu governo, em entrevista ao "Valor": "O BC tem autonomia para fazer a política dele... Eu acredito num Banco Central extremamente profissional e autônomo".
Vão dizer que autonomia é diferente de independência, mas não é.
Ficamos assim, portanto, se é para ter um mínimo de método: o BC de Dilma era autônomo, mas não é mais. Em algum momento, ela se arrependeu e passou a mandar nele. E bem quando os juros subiram, vejam a ironia.
Mas talvez a verdade disso tudo esteja com a presidente, mas em outra frase. Na mesma entrevista ao "Valor", quando as entrevistadoras perguntam se o BC poderia ter gente do mercado na diretoria, Dilma responde que sim e acrescenta que esse negócio de ficar dizendo que o Banco Central "tem que ser assim ou assado é besteirol".
Fica outra questão nessa história sem fim: onde está mesmo o besteirol, antes, agora ou sempre?
Pedindo desculpas pelas brincadeiras, acrescentamos a sério: é muito ruim para o debate eleitoral esse marketing do besteirol ameaçador. Por pior que seja, acaba criando compromissos que atrasam o país. Lembram-se de quando Lula, na sua última campanha, demonizou as privatizações? Ele levou e, por isso, atrasou por anos a privatização dos aeroportos.
Tem custo.
FED
Por falar em Banco Central, o Federal Reserve, dos EUA, decidiu ontem manter a taxa básica de juros entre 0% e 0,25%, a mais baixa da História. O Fed é independente, na lei e na prática.
Ora, se um BC independente cai na mão dos banqueiros, como diz Dilma, então os bancos americanos gostam mesmo é de juros baixos, ao contrário do que sugere nossa presidente.
Desculpem, a piada estava pronta.
Carlos Alberto Sardenberg é jornalista
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