quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Míriam Leitão: Para que mentir?

- O Globo

O Bolsa Família é um sucesso tal que ninguém fala em acabar com o programa. A presidente Dilma escolheu o foco nos extremamente pobres, o que foi acertado, e o Brasil acaba de sair do mapa da fome da ONU. Apesar desse sucesso, a campanha petista inventa números para inflacionar os dados da pobreza de antes de sua gestão e lança mentiras sobre a campanha de Marina.

Nos dois minutos mais fortes desta campanha, Marina falou de improviso, sem marqueteiros e teleprompter, em palavras diretas do coração, com a força da grande oradora que é, do seu compromisso em manter o Bolsa Família. Desmente a campanha do PT de que ela acabaria com o programa. O caso familiar que relata é pungente e verdadeiro, pelo que ela viveu em Seringal Bagaço. O Brasil fez isso com milhões dos seus filhos durante sua longa história de exclusão. "Isso não é um discurso, é uma vida", conclui Marina.

O esboço do programa de Dilma registra que havia 54% de pobres e miseráveis antes da gestão petista. O mesmo número foi repetido pela candidata nas considerações finais da sabatina do GLOBO. Mas os dados que o especialista em combate à pobreza Ricardo Paes de Barros sempre me forneceu, em gráficos que usei até no exterior para mostrar como o Brasil avançou, registram que o percentual de pobres e extremamente pobres caiu de 47% antes do Plano Real para 38% em 1995. Depois, ficou parado para voltar a cair fortemente nos governos petistas. Em 2008, estava em 25% e continuou caindo.

O resultado do PT já é tão bom que fica a dúvida: para que manipular o passado ou mentir sobre adversários? O programa Bolsa Família nasceu após uma hesitação que elevou um pouco o percentual de pobres no ano de 2003. O Fome Zero era muito ruim e envelhecido. Entregaria bônus para compra de alimentos com exigências burocráticas aos pobres. Felizmente, a ideia foi abandonada e voltou-se à nova tecnologia de transferência de renda que já havia sido aplicada com sucesso em Campinas, por José Grama, do PSDB; em Brasília, por Cristovam Buarque, do PT; em Belo Horizonte, pelo PSB, de Célio de Castro. Foi então para o governo federal de Fernando Henrique.

Mas o Bolsa Escola federal era tímido no governo FH. O ex-presidente Lula unificou os programas que encontrou, ampliou e mirou a universalização. Excelente iniciativa. O Bolsa Família foi um sucesso como provam os números de queda da pobreza. Na gestão da competente ministra Tereza Campello, o Brasil tem focado os extremamente pobres, a base da pirâmide. Os ganhos são inegáveis. Na última conversa que tive com a ministra, vi uma impressionante sequência de boas notícias.

A economista Sonia Rocha é outra conhecida especialista em programas sociais de combate à pobreza. Seus números são um pouco diferentes de Paes de Barros porque tudo depende da linha de pobreza, mas ela mostra o mesmo movimento: a pobreza cai fortemente com o Plano Real, para de cair por anos, e volta a declinar no governo Lula. Em livro recente sobre o tema, "Transferência de Renda no Brasil: o fim da pobreza?", ela afirma: "Depois de ter declinado de 44% em 1993 para 34% em 1995, a média para o período 1996-2003 se situou em 34% atingindo o pico de 35% em 2003, primeiro ano do governo Lula."

De 2004 em diante, a queda ocorre de forma sustentada. Há discussões entre os especialistas sobre outros fatores, como aumento da renda do trabalhador e crescimento econômico, para esse efeito. Não há dúvida que sem a estabilização essa onda boa não teria começado, mas foi nos governos petistas que as curvas declinaram mais fortemente. Isso é bom o suficiente. Não é necessário usar de truques ou mentiras.

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