• Ameaça de Marina leva a campanha do PT e a própria candidata a mandar às favas os escrúpulos e a fazer acusações muito além do aceitável
A entrada de Marina Silva nas eleições presidenciais de maneira fortuita, devido à morte trágica de Eduardo Campos, era tudo o que o PT não queria. Não interessava aos petistas que a ex-ministra e senadora conseguisse constituir seu partido, a Rede, a tempo de entrar na disputa de 2014. Ninguém esquecera os 20 milhões de votos arrebanhados por Marina em 2010.
Parece ter faltado competência aos marineiros para conseguir todas as 492 mil assinaturas de eleitores e registrar a Rede nos prazos legais. Mas, embora reclamações tenham sido arquivadas, sempre existirão suspeitas de interferências alopradas em cartórios eleitorais do ABC, onde milhares de assinaturas foram glosadas.
Uma trapaça do destino colocou Marina na corrida presidencial, na cabeça da chapa do PSB, e o medo petista se confirmou. Como reza a tradição da legenda, o partido preparou agressiva campanha contra Marina. Mas ultrapassou todos os limites: da ética, da seriedade, do cinismo.
Antigas armas têm sido acionadas pelos marqueteiros petistas. A do medo, até mesmo usada contra Lula em 2002, logo foi colocada para funcionar. Marina se esquivou com agilidade, ao se comparar a Lula, a quem defendeu naquela campanha, quando era militante petista, futura ministra do meio ambiente.
Mas o rolo compressor petista cresceu, tão logo foi constatado que manobras que funcionaram contra tucanos — apresentados pelo PT como perigosos "privatistas" — seriam inócuas contra a ambientalista e ex-petista.
O maniqueísmo e a dose de inverdades contidas no filmete produzido para atacar a proposta de Marina de autonomia formal do Banco Central são exemplares do vale-tudo petista. A decisão da campanha de Dilma e da própria candidata de mandar às favas os escrúpulos fica exposta em vários aspectos deste e outros ataques a Marina.O primeiro, que a própria Dilma, na campanha de 2010, apoiou a autonomia formal do BC.
O filmete panfletário diz que, num governo Marina, "banqueiros" controlarão o BC e, assim, farão desaparecer a comida da mesa do povo. Ora, o mesmo não acontece nos EUA, Inglaterra, Japão, Alemanha etc. — onde há BCs autônomos. E se algum banqueiro dirigiu o BC, foi nos governos Lula, quando o ex-CEO do Bank Boston, Henrique Meirelles, presidiu a instituição.
Justifica-se, então, o parecer do Procurador-Geral da União, Rodrigo Janot, junto ao TSE, pela suspensão da propaganda, por "criar estados mentais, emocionais ou passionais" nos eleitores. Ministro do Tribunal, Herman Benjamin disse, ao vetar outra publicidade, esta do PSDB, que um pecado mortal dessas peças de propaganda eleitoral é confundir o eleitor. De fato. Mas a última pesquisa Ibope/Rede Globo demonstrou que o dom de iludir desta campanha não tem produzido o efeito desejado pelos marqueteiros. A Justiça e o MP precisam estar ainda mais atentos.
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