- O Estado de S. Paulo
Descontada a brisa de esperança que os quatro pontos a mais devem ter produzido na campanha do tucano Aécio Neves, em termos numéricos a pesquisa Ibope/Estado/TV Globo não trouxe grandes novidades.
Mas se considerarmos o panorama do ponto de vista do objetivo da louca ofensiva da campanha da presidente Dilma Rousseff sobre a candidata do PSB, Marina Silva, é de se notar algo inesperado: a ausência de resultado da artilharia pesada.
Marina não disparou na subida, mas tampouco despencou como o PT pretendia. A presidente oscilou três pontos a menos no primeiro turno, a ex-senadora apenas um e ficaram as duas no patamar de 36% a 30%.
Para quem iria tirar a comida da mesa dos brasileiros, acabar com programas sociais e, de quebra, vender a Petrobrás em contraponto com a presidente de um partido cujo governo representa a salvação do Brasil, convenhamos, o saldo não é favorável à atacante.
Ainda mais se consideradas suas condições desproporcionalmente vantajosas. Se postas na balança - a começar pelo tempo de televisão cinco vezes maior -, o lado mais fraco saiu ganhando. Ao menos por enquanto. No segundo turno, permanece o empate (43% para Marina, 40% para Dilma) quando a ideia, a julgar pela força do ataque, seria provocar um abalo ao menos significativo.
O que terá acontecido são hipóteses a serem examinadas pelos especialistas. O PT pode ter exagerado na dose e Marina aproveitado bem a posição da atacada. E a subida de Aécio, com redução de 15 para sete pontos da distância entre ele e Dilma no segundo turno? Tudo indica uma retomada do eleitor que vê nele a possibilidade de derrotar o PT.
Seja como for, confirmado esse movimento do cenário, a campanha da reeleição precisará no mínimo de fazer uma pausa para meditação sobre a eficácia do método da demolição.
Velha senhora. Muita gente experiente, e até bem intencionada, põe a culpa da degradação da política no instituto da reeleição. O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa foi além em palestra nesta semana dizendo que a possibilidade de um segundo mandato é "a mãe de todas as corrupções".
Se a premissa é verdadeira e considerando que a reeleição passou a existir na Constituição brasileira só a partir de 1997, teríamos de aceitar que antes disso a corrupção ainda não havia nascido no Brasil. O que, evidentemente, não corresponde aos fatos.
A extinção pura e simples da lei não impedirá o governante transgressor - como de resto nunca impediu - de usar a máquina pública para eleger o sucessor.
'Pour mémoire'. Ninguém no Congresso tinha a menor dúvida sobre a impossibilidade de Paulo Roberto Costa falar qualquer coisa na CPI da Petrobrás em sessão aberta ou fechada.
A presença dele, contudo, serviu para que parlamentares - de oposição, claro - se sucedessem aos microfones para recordar e repetir por horas tudo o que há de suspeito contra a estatal, acrescentando ligações dos personagens atuais com os que transitaram pelo escândalo do mensalão. Em suma, a sessão serviu para passar em revista o caso.
Sendo a CPI foro político e politicamente manejado pelos governistas para impedir as investigações, ontem os oposicionistas tiveram a sua chance de dar à comissão de inquérito a mesma utilidade.
Toque de classe. A presidente Dilma nessa ofensiva contra Marina já vinha dando sinais, mas a incorporação do estilo Lula tornou-se ontem definitiva ao responder a empresários que a legislação trabalhista não mudará "nem que a vaca tussa".
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