A pesquisa do Ibope, divulgada ontem à noite pela Globo, e a do Datafolha que está sendo concluída, são as de maior credibilidade para refletir o impacto, na fase relevante das disputas eleitorais (sobretudo a presidencial) que começou na segunda semana de setembro, de fatos políticos e mudanças táticas de campanhas com potencial de garantir a manutenção ou alterar significativamente as tendências configuradas, após a troca da candidatura do PSB, pela seleção dos finalistas Dilma Rousseff e Marina Silva, com a exclusão de Aécio Neves.
Entre tais fatos, destacam-se o megaescândalo da Petrobras (a partir da delação do ex-diretor Paulo Ro-berto Costa sobre o desvio de vultosos recursos da estatal para negociatas e propinas para integrantes da base governista federal). E das aludidas mudanças táticas de campanhas a mais significativa foi o desencadeamento pelo comitê de Dilma e pelo PT de radical e ruidosa ofensiva para a “desconstrução” de Marina, caracterizada como traidora que se tornou instrumento dos banqueiros, ameaça aos programas assistencialistas, inimiga do pré-sal. O último ataque sendo usado, também, para reduzir o peso do referido megaescândalo. Cujas proporções geraram para a candidatura de Aécio a expectativa de desdobramentos rápidos e com grande espaço na mídia, favoráveis a uma recuperação de sua competitividade. Cabendo assinalar, relativa-mente à ofensiva anti-Marina, que poderia ter resultados contraditórios: de um lado, ganhos com a queda de apoio eleitoral à candidata que sucedeu Eduardo Campos; de outro, prejuízos com julgamento negativo por amplos segmentos da sociedade às calúnias e baixarias dirigidas contra ela (já objeto de embargos e contestações por órgãos do Judiciário).
Os números da pesquisa do Ibope sobre o 1º turno (que poderão ser confirmados basicamente ou alterados pelo Datafolha) mostrou uma queda de três pontos de Dilma, de 39% no levantamento anterior, para 36% no processado de sexta-feira em diante, e uma oscilação de Marina, de 31% para 30%, ambas em contra-ponto a uma elevação do índice de Aécio no período, de quatro pontos – 15% para 19%. A queda da primeira evidenciando a prevalência de um saldo negativo da mudança tática promovida na campanha governista, com provável adição do desgaste pelo novo escândalo na Petrobras e pela sequência de indicadores muito ruins do comportamento e da gerência da economia. Enquanto a pequena queda de Marina – de 33% há 15 dias para 30% agora – demonstra, em um plano, resistência ao tiroteio sobretudo ético de que tem sido alvo, e, em outro, reflete as dúvidas – mais que isso a desconfiança – do eleitorado com maior nível de informação a respeito da coerência e da consistência de suas propostas e da viabilização institucional delas.
O que tem sido potencializado por críticas políticas (não baixarias) por parte de Aécio, em mudança também feita em sua campanha, que mantém a centralidade dos ataques voltada para a adversária governista. E a recuperação do candidato do PSDB, expressiva mais ainda limitada, reabre-lhe espaço para a afirmação de uma possível, embora ainda pouco provável “onda da razão” (nos últimos 15 dias da batalha do 1º turno), que tenta como a “verdadeira alternativa ao petismo”. Quanto à renovação das projeções para o 2º turno, o Ibope aponta tendências semelhantes: queda das in-tenções de voto em Dilma, de dois pontos, para 40%, com manutenção das atribuídas a Marina, 43%. E avanço de Aécio também nesse cenário, com redução da desvantagem em relação às duas concorrentes, que continua elevada. E quanto à Petrobras, cabe esperar mais desdobramentos do megaescândalo, com o depoimento hoje de Paulo Roberto Costa à CPI mista do Congresso (que o Palácio do Planalto e o PT tentam esvaziar) e novas revelações de graves irregularidades pela imprensa.
As informações das duas pesquisas atualizarão, igualmente, as tendências das disputas estaduais e vão propiciar antecipação mais consistente das relativas à composição do próximo Congresso Nacional. Um outro desafio importante colocado para Aécio Neves é o de uma reversão, muito difícil, da disputa pelo governo mineiro, que segue marcada por folgada liderança mantida por Fernando Pimentel sobre Pimenta da Veiga. O que faz de Minas o único estado de grande peso político e econômico em que o PT está à frente dessa disputa.
Jarbas de Holanda é jornalista
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