• A nova escalada, que até ontem acumulava uma alta de 6,63% em 2015 e de 5,44% só em fevereiro, sugere que o mercado passou a testar os novos limites do câmbio
- O Estado de S. Paulo
As cotações do dólar no câmbio interno fecharam nesta terça-feira, 10, em R$ 2,83 (veja o gráfico abaixo), o maior nível desde novembro de 2004. Mais que tudo, é consequência de problemas nossos.
No dia 30 de janeiro, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, avisou que o governo não mais seguraria artificialmente o câmbio. Além de crítica à política anterior, ficou reforçada a indicação de que a inflação será combatida não por políticas heterodoxas, como represamento de preços e contenção do câmbio, como no tempo do ministro Mantega, mas pela disciplina fiscal e pela política monetária (política de juros).
A nova orientação sugere que o câmbio ficará menos sujeito a intervenções do Banco Central, que vinha contendo as cotações por meio de leilões de swaps cambiais, equivalentes à venda de moeda estrangeira no câmbio futuro. Mas não está claro até que ponto o câmbio ficará mais solto.
A nova escalada, que até ontem acumulava uma alta de 6,63% em 2015 e de 5,44% só em fevereiro, sugere que o mercado passou a testar os novos limites do câmbio.
Não faltam razões técnicas que justifiquem a alta. A primeira delas é a deterioração da economia. Os resultados do PIB em 2014 deverão decepcionar e as perspectivas para 2015 são ainda piores, porque o mercado passou a esperar estagnação ou retração da atividade econômica, tanto mais acentuada quanto mais aumenta o risco de racionamento de energia elétrica e de água tratada.
As contas externas tiveram em 2014 um desempenho ruim, a despeito do bom afluxo de Investimentos Estrangeiros Diretos: déficit de 4,2% quando medido pelo tamanho do PIB. E, em 2015, as exportações não devem ajudar porque os preços das commodities vêm caindo no mercado internacional.
Mas o principal fator que produz movimentos defensivos no câmbio é o aumento da possibilidade de rebaixamento da qualidade dos títulos de dívida do Brasil pelas agências de classificação de risco. Se isso acontecer, o estrago não se refletirá apenas no aumento dos juros cobrados do País e das empresas nacionais nos seus financiamentos externos. Também as expectativas sobre o Brasil ficarão prejudicadas.
Como tudo o que envolve preços de moedas, não há nenhum indicador que possa dar alguma previsibilidade ao movimento geral do câmbio. Se a desvalorização do real (alta do dólar) se confirmar e se tornar persistente, será preciso enfrentar as conseqüências.
Os produtos importados ficarão mais caros em reais, com impacto correspondente sobre a inflação interna. Mas os produtos de exportação Ganharão impulso. É o mesmo fator que deverá aumentar em alguma coisa a competitividade da indústria.
Mas a própria disparada do dólar pode conter seu antídoto. À medida que o aplicador estrangeiro contar com mais reais por dólar, a entrada de moeda estrangeira tende também a aumentar. Nesse segundo momento, o aumento da oferta poderá atuar como estabilizador e, até mesmo, como redutor das cotações. Para isso, é preciso o retorno da confiança no futuro da economia.
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