• Baciada de notícias ruins na economia brasileira e salto de juros nos EUA empurram o real para baixo
- Folha de S. Paulo
Dólar a mais de R$ 2,80 e subindo não pega bem neste ambiente empesteado, em que até a quebra do salto do sapato da presidente pareceria capaz de intensificar a crise.
Mas, como de costume, é difícil entender por que o câmbio varia mesmo em um certo ano, que dirá em um certo dia. Aparentemente, uma combinação de más notícias sobre as contas do governo com um salto dos juros nos Estados Unidos contribuiu para dar um tapa para cima no dólar em fevereiro.
O dólar recomeçou a desandar no fim de janeiro, assim como as taxas de juros brasileiras. No fim do mês passado, soube-se que o buraco das contas do governo em 2014 fora mais profundo do que se imaginava. Dilma 1 foi de fato inimaginável.
Percebeu-se, pois, que o conserto desta nossa economia escangalhada deve ser mais custoso e incerto. Além de outras trapalhadas desalentadoras deste mês, soube-se ainda que a coalizão do governo no Congresso pretende detonar o plano de controle de gastos proposto pelo Ministério da Fazenda, sem, no entanto, até agora apresentar alternativa. Por fim, autoridades econômicas brasileiras deram indícios de que, enfim, vão deixar o real se desvalorizar.
Apesar do nosso apreço por darmos tiros no próprio pé, com uma tentação crescente de acertamos a nossa cabeça, parece que não foi apenas a barafunda brasileira que fez o preço do dólar dar uma corrida. Também a partir do final de janeiro as taxas de juros americanas de longo prazo (títulos de dez anos) deram uma corrida em ritmo inédito desde meados de 2013. Eles mesmos não se entendem bem a respeito do que houve.
Em maio de 2013, o Fed, o banco central americano, anunciou que fecharia aos poucos a torneira de dinheiro que despejava na economia americana e, por tabela, mundial. Em seguida, as taxas de juros americanas de longo prazo na praça passaram a subir. O real de imediato passou a se desvalorizar no mesmo ritmo da alta dos juros americanos. Essa relação ficou atenuada a partir de agosto de 2013, quando o BC brasileiro passou a intervir no câmbio. A partir de setembro de 2014, a relação se inverteu: os juros caíam lá, o dólar subia aqui, provavelmente por causa do nervosismo da nossa eleição (mas não apenas).
Logo, em certas condições e a depender do jogo dos donos do dinheiro grosso, a taxa de juros americana dá uma puxada no preço do dólar por aqui. Pode ser o caso deste fevereiro.
Volta e meia ressurge a fofoca de que os Fed vai elevar sua taxa básica lá pelo meio do ano (o que vai causar algum tumulto por aqui no Brasil, com alta do dólar e de juros).
Mas o assunto é ainda nebulo- so. E incerto: as taxas americanas estão altas demais em relação às das geladas economias europeias; Europa e Japão despejam dinheiro na praça; a China deve fazê-lo em breve. O título de dez anos do governo americano paga 2% ao ano. O alemão desceu ao nível de estagnação japonesa, 0,37% ao ano. Nós, para constar: uns 13%, mais que a falida Grécia. Para ser mais justo: em termos reais, americanos e alemães pagam zero ou algo menos; nós, uns 6,2%.
Ainda assim, dada a diferença de juros, por que o real apanha? Porque a coisa está feia e incerta por aqui.
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