• Depois de passar comando do ajuste fiscal a Levy, Dilma cede negociação do varejo parlamentar a Temer; agora falta dar partida no governo
Quando parecia esgotado o repertório de investidas equivocadas do Planalto para se compor com o PMDB no Congresso, a presidente Dilma Rousseff (PT) surpreendeu a todos e envolveu-se em nova enrascada ao considerar o peemedebista Eliseu Padilha para cuidar da articulação política.
Frustrou-se mais uma vez. De tropeço em tropeço, chega cambaleante aos cem dias de seu novo mandato, que se completam nesta sexta-feira (10). A mais recente prova de inabilidade, paradoxalmente, poderá revelar-se o verdadeiro início do segundo governo.
O enredo contém lances de pura inverossimilhança. Em que outra administração um peemedebista com jogo de cintura suficiente para se acomodar tanto em gestões do PSDB como do PT se declararia impedido de assumir o prestigiado posto de articulador político da Presidência para permanecer na apagada pasta da Aviação Civil?
Nessa toada, em poucas semanas Dilma veria esvair-se o pouco que lhe resta de autoridade perante o Poder Legislativo. Mais até que sua pessoa, é a Presidência da República que lhe toca fazer respeitar, principalmente quando os presidentes peemedebistas do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Eduardo Cunha, tanto mais faturam quanto mais a diminuem.
O fato de os três personagens dessa comédia de erros pertencerem ao PMDB não quer dizer nada. Mesmo o mais desatento observador da política brasileira sabe que o partido é uma federação desconjuntada de interesses paroquiais, para dizer o menos.
No curto período que durou a hipótese de sua nomeação, Padilha esteve sob o canhoneio dos próprios correligionários. Experimentou as pressões que se multiplicam sobre uma presidente enfraquecida por sua dependência do Congresso para aprovar o imprescindível ajuste fiscal, sem munição nem tropa para alavancar reação.
Encurralada por Cunha e Renan, Dilma rendeu-se ao inevitável, ao que parece. Retirou-se do front parlamentar, enfim, e passou o bastão a um general peemedebista, seu próprio vice, Michel Temer.
Seja pela estatura do cargo que ocupa, seja pela reputação de habilidoso e pela fatia de poder no partido que lhe interessa preservar, Temer não tem a opção de bater em retirada nem a de fracassar. Coincidência ou não, em seu primeiro dia o Senado desistiu de criar uma CPI do BNDES, que seria obviamente incômoda ao governo.
A presidente já havia cedido o comando da principal batalha de 2015, o ajuste fiscal, a Joaquim Levy. Agora conta com alguém à altura das demais emboscadas e escaramuças parlamentares.
Só lhe resta começar a governar.
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