• Michel Temer, que assumiu a função, se reuniu na noite de segunda-feira com a cúpula do partido
Eliane Oliveira / Isabel Braga / Maria Lima – O Globo
BRASÍLIA - Na primeira reunião com a cúpula do PMDB ontem a noite no Palácio do Jaburu , quando o vice-presidente comunicou seu acerto com Dilma Rousseff para assumir a coordenação política, a avaliação de todos é que esse foi um movimento ousado e “a última cartada” da presidente para tentar sair das cordas, o que se não der certo “pode ser um desastre total”. Apesar de os presidentes Renan Calheiros, do Senado; e Eduardo Cunha, da Câmara, darem declarações de apoio a Michel, há entre os peemedebistas uma irritação com a forma com que Dilma comandou a operação. Reclamam também que a presidente diminuiu o papel de Michel , além da apreensão grande de que o partido assuma a crise e o desgaste do governo petista, deixando para o PSDB e partidos de oposição a capitalização da indignação popular.
No relato feito aos companheiros, Temer disse que voltou a conversar com Dilma ontem à noite. E teria reafirmado que só poderia estar nessa função se tivesse autonomia e poder de decisão para falar em nome do governo e fazer as tratativas e as negociações necessárias da política e dos temas em tramitação no Congresso.
— Foi uma decisão muito arriscada. Nós vamos ficar com o cargo e a responsabilidade de resolver a crise. E quem vai ficar com as ruas? Não seremos nós — avaliou um dos caciques que participaram da reunião.
Temer explicou que no lugar da Secretaria de Relações Institucionais será criada uma espécie de secretária-executiva, com o titular indicado por Temer. Essa pessoa fará o acompanhamento técnico das relações do governo com o Congresso. O ex-secretário da Mesa da Câmara Mozart Viana, que se aposentou recentemente, foi convidado para assumir a função.
Segundo os participantes do jantar, Renan entrou mudo e saiu calado . E Eduardo Cunha, muito ligado a Michel e hoje a oposição mais forte ao Governo no Congresso, também foi lacônico e demonstrou certo ceticismo quanto ao poder a ser dado por Dilma ao novo coordenador político.
— Noto no Eduardo uma posição um pouco turbulenta com o governo, mas não com o Michel. Ele só disse que não tinha muita convicção do que vai acontecer — disse um dos peemedebistas presentes.
O líder do PMDB na Câmara, deputado Leonardo Picciani (RJ) , também presente ao jantar, disse que a grande expectativa do partido é se realmente Temer terá autonomia para trabalhar. E enfatizou que o PMDB não abrirá mão da PEC que prevê a redução para 20 ministérios.
— As posições da bancada são programáticas, já estabelecidas e, portanto, serão mantidas. Essa é a última cartada de Dilma. Se não der certo com ele, vai botar quem no lugar? A maior preocupação é que dê certo. É um movimento positivo [da Dilma], pois sempre se cobrou muito diálogo. Se não der certo, será um desastre total — avaliou Picciani.
Renan elogia
Em entrevista hoje, o presidente Renan Calheiros avalizou a ida de Michel Temer para a coordenação política. Disse que sem dúvida qualifica muito a relação com o Congresso e com os partidos. Disse que ninguém melhor do que Michel Temer para exercer com competência essa tarefa que é, “como todos sabem, complexa”. Renan não quis dizer que foi uma operação “atrapalhada”, como perguntaram os jornalistas, mas considerou a escolha de Dilma “ousada”.
— Acho que a indicação do vice-presidente Michel Temer foi uma medida ousada, competente e sobretudo refaz uma circunstância para que haja uma revisão geral do ponto de vista político — disse Renan.
Renan disse que a presença do Michel, dentre de outras coisas, pode muito melhorar a qualidade da coalização do PT com o PMDB.
— Um dos grandes problemas do Brasil é que a coalizão não tem fundamento programático. É fundamental que ela tenha um fundamento. A coalizão é em torno de quê? O Michel é a melhor pessoa para estabelecer isso — disse Renan.
Bala de prata
Nas conversas reservadas ontem e hoje, os peemedebistas contam que muitos estão insatisfeitos com a decisão, que isso apequenava o Michel. Atribuem a reação negativa à surpresa com a decisão da Dilma.
— Foi a bala de prata. Não temo como negar a capacidade de fazer articulação política de uma pessoa eleita três vezes presidente da Câmara e que chegou a vice-presidente. Resta saber se ele terá autonomia para fazer essa tarefa. Se o tiver, tira o país da instabilidade e estagnação que se encontra. Michel não desceu para ser ministro, foram as atribuições de articulador que subiram para a Vice-Presidência. Ele não pode ser demitido — disse Danilo Forte (PMDB-CE).
— Se ele virasse ministro, poderia apequenar, mas como vice-presidente recebeu um chamado da presidente para compartilhar o poder e vai colaborar como seu vice. Ele não é um ministro, é um vice empodeirado como articulador político — disse Picciani.
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