Os resultados do último Ibope – confirmando e ampliando dados semelhantes de pesquisas anteriores do mesmo instituto, do Datafolha e do MDA – tanto quanto muito ruins para a presidente Dilma o foram também para o PT. Refletindo crescente rejeição à chefe do governo e a seu partido no conjunto do eleitorado brasileiro, inclusive no de menores renda e acesso a informações. O que está sendo avaliado como um “derretimento da base social” de apoio à presidente, de par com o desgaste da imagem do partido. O primeiro, reconhecido explicitamente por um dos dirigentes nacionais petistas, segundo o Painel da Folha de S. Paulo de anteontem. E o segundo, induzindo o ex-presidente Lula a propor a montagem de uma “frente ampla” – na verdade uma frente esquerdista do PT com os chamados “movimentos sociais”, que diluiria tal desgaste nas eleições municipais de 2016 e nas estaduais e federal de 2018.
Esse “derretimento” constitui um dividendo inevitável da forte deterioração da economia. Dos seus efeitos na pressão inflacionária, no estreitamento do mercado de trabalho, no aumento da criminalidade, restritivos do consumo e dos programas sociais (inclusive do Fies e do Pronatec), mais sensíveis para a população de menor renda. E daqueles que afetam mais as camadas médias, bem como a grande maioria do empresariado: escalada da in- ação, turbinada pelo tarifaço de energia elétrica e dos combustíveis; juros elevadíssimos; queda de investimentos públicos e privados; ampliação da carga tributária; aguda queda de produtividade e de competitividade da nossa indústria. Tudo isso combinado com o impacto do megaescândalo da Petrobras (um mensalão bem maior, igualmente promovido em favor de um projeto de poder dirigido pelo PT) e com um Executivo federal de baixíssimo nível de governabilidade e minoritário nas duas Casas do Congresso
Mas uma conclusão de maior abrangência que se pode extrair da conjuntura nacional (dos dividendos do descalabro fiscal praticado nos últimos anos, e de suas causas), conclusão positiva malgrado o enorme custo do enfrentamento desse descalabro, é a de que a economia, com suas condicionantes essenciais, erodiu e sufocou – sem chance visível de espaço para uma retomada – o abusivo populismo eleitoreiro do lulopetismo. Cujos desdobramentos nefastos para o crescimento do país já eram perceptíveis desde o segundo mandato de Lula. E cujas consequências foram agravadas ao longo do primeiro governo Dilma (com o adicional, também desastroso, da exacerbação do intervencionismo estatizante). Efeitos agora enfrentados por duro ajuste das contas públicas – indispensável ciente, ademais de ainda incerto,e sério, embora insuficiente por não estar articulado com reformas estruturais pró-mercado (situadas bem além da “virada” tática da presidente de aceitar o ajuste apenas como tábua de salvação do seu governo).
Quanto à “frente ampla”proposta por Lula para manipulação dos “movimentos sociais” em favor do PT, o ensaio dessa tática nos atos públicos realizados ontem teve resultados muito pI fios. Bem resumidos, em pequena chamada de primeira página da Folha, de hoje: “O protesto contra o projeto de lei que amplia a terceirização terminou em confronto entre manifestantes e policiais em Brasília, deixando dois feridos. Em São Paulo a manifestação virou ato em defesa da saúde. A central sindical, que esperava 10 mil manifestantes, afirmou que 1000 participaram. a Segundo a PM, foram 400”. Reunindo praticamente só militantes da CUT, do MST e da UNE, esses atos – projetados como contraponto às manifestações sociais anticorrupção, anti-Dilma, anti-PT, em preparo para o próximo domingo – evidenciaram o isolamento do PT na sociedade e a extensão dele à CUT.
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Jarbas de Holanda é jornalista
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