quinta-feira, 9 de abril de 2015

Jarbas de Holanda - O esgotamento do populismo e a crise do PT

São Paulo, 8 de abril 2015

Os resultados do último Ibope – confirmando e ampliando dados semelhantes de pesquisas anteriores do mesmo instituto, do Datafolha e do MDA – tanto quanto muito ruins para a presidente Dilma o foram também para o PT. Refletindo crescente rejeição à chefe do governo e a seu partido no conjunto do eleitorado brasileiro, inclusive no de menores renda e acesso a informações. O que está sendo avaliado como um “derretimento da base social” de apoio à presidente, de par com o desgaste da imagem do partido. O primeiro, reconhecido explicitamente por um dos dirigentes nacionais petistas, segundo o Painel da Folha de S. Paulo de anteontem. E o segundo, induzindo o ex-presidente Lula a propor a montagem de uma “frente ampla” – na verdade uma frente esquerdista do PT com os chamados “movimentos sociais”, que diluiria tal desgaste nas eleições municipais de 2016 e nas estaduais e federal de 2018.

Esse “derretimento” constitui um dividendo inevitável da forte deterioração da economia. Dos seus efeitos na pressão inflacionária, no estreitamento do mercado de trabalho, no aumento da criminalidade, restritivos do consumo e dos programas sociais (inclusive do Fies e do Pronatec), mais sensíveis para a população de menor renda. E daqueles que afetam mais as camadas médias, bem como a grande maioria do empresariado: escalada da in- ação, turbinada pelo tarifaço de energia elétrica e dos combustíveis; juros elevadíssimos; queda de investimentos públicos e privados; ampliação da carga tributária; aguda queda de produtividade e de competitividade da nossa indústria. Tudo isso combinado com o impacto do megaescândalo da Petrobras (um mensalão bem maior, igualmente promovido em favor de um projeto de poder dirigido pelo PT) e com um Executivo federal de baixíssimo nível de governabilidade e minoritário nas duas Casas do Congresso

Mas uma conclusão de maior abrangência que se pode extrair da conjuntura nacional (dos dividendos do descalabro fiscal praticado nos últimos anos, e de suas causas), conclusão positiva malgrado o enorme custo do enfrentamento desse descalabro, é a de que a economia, com suas condicionantes essenciais, erodiu e sufocou – sem chance visível de espaço para uma retomada – o abusivo populismo eleitoreiro do lulopetismo. Cujos desdobramentos nefastos para o crescimento do país já eram perceptíveis desde o segundo mandato de Lula. E cujas consequências foram agravadas ao longo do primeiro governo Dilma (com o adicional, também desastroso, da exacerbação do intervencionismo estatizante). Efeitos agora enfrentados por duro ajuste das contas públicas – indispensável ciente, ademais de ainda incerto,e sério, embora insuficiente por não estar articulado com reformas estruturais pró-mercado (situadas bem além da “virada” tática da presidente de aceitar o ajuste apenas como tábua de salvação do seu governo).

Quanto à “frente ampla”proposta por Lula para manipulação dos “movimentos sociais” em favor do PT, o ensaio dessa tática nos atos públicos realizados ontem teve resultados muito pI fios. Bem resumidos, em pequena chamada de primeira página da Folha, de hoje: “O protesto contra o projeto de lei que amplia a terceirização terminou em confronto entre manifestantes e policiais em Brasília, deixando dois feridos. Em São Paulo a manifestação virou ato em defesa da saúde. A central sindical, que esperava 10 mil manifestantes, afirmou que 1000 participaram. a Segundo a PM, foram 400”. Reunindo praticamente só militantes da CUT, do MST e da UNE, esses atos – projetados como contraponto às manifestações sociais anticorrupção, anti-Dilma, anti-PT, em preparo para o próximo domingo – evidenciaram o isolamento do PT na sociedade e a extensão dele à CUT.

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Jarbas de Holanda é jornalista

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