• De uma trapalhada saiu a boa solução de Temer fazer a coordenação política, mas isso não garante um PMDB disciplinado, obediente aos desígnios do Planalto
Foram necessários três meses e sete dias do segundo mandato para a presidente Dilma reconhecer a dependência que seu governo tem do apoio do PMDB no Congresso. O sinal disso foi a ida do vice-presidente da República, Michel Temer, cacique peemedebista, para a coordenação política de Dilma, com a devida extinção da Secretaria de Relações Institucionais (SRI).
Antes, porém, como tem sido uma das marcas deste início de segundo mandato, o Planalto deu um show de amadorismo, colocando a presidente na desagradável situação de ter um convite formal seu, para a SRI, recusado pelo ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, também do PMDB. Sondagens discretas existem para evitar dissabores como este e descortesias como a de deixar que Pepe Vargas soubesse pelo noticiário na internet que havia sido rifado. A estética das relações em Palácio não é mesmo refinada. Mas, da trapalhada, saiu a melhor solução, a unção de Temer.
Movida esta peça no tabuleiro, Dilma ganha fôlego, porque passa a ter canal de diálogo com o PMDB, especializado em ser condômino do poder sem pagar o ônus de exercê-lo. E ainda conta com um conselheiro político capaz de se impor à Casa Civil, de Aloizio Mercadante, identificado nas conversas no Instituto Lula como o grande responsável pela crise política. Coadjuvado por Pepe Vargas.
Mas o cenário não é tão simples. Com Temer agora ocupando um espaço que ele reivindicava, Dilma precisa praticar o exercício de ouvir e delegar — nada muito fácil para ela —, assim como ter consciência que seu novo principal assessor político é estável, não pode ser demitido.
Também não está garantido que o rio do PMDB voltará a correr no leito estabelecido pelo Planalto. Não só a unidade nunca foi característica do partido, mesmo no velho MDB — dividido entre “autênticos” e “moderados” —, como os atuais presidentes da Câmara e do Senado, os peemedebistas Eduardo Cunha e Renan Calheiros devem continuar pintados para a guerra, enquanto aguardam a tramitação no Supremo da lista de pedidos de abertura de inquérito para investigar acusados de se beneficiar do petrolão, os dois entre estes.
Outro amadorismo que ficou evidente em toda essa história é do próprio PT e da presidente, demonstrado pelo endosso à operação suicida de estimular o especialista em ressuscitar partido, o ministro Gilberto Kassab (PSD), para tirar da cartola mais uma legenda, a fim de usá-la em fusões que atraíssem parlamentares do PMDB. Foram contra-atacados de forma fulminante, e ainda estimularam a crise.
Para agravar a situação do projeto de petistas de livrar-se do PMDB, a fim de tentar realizar no Congresso sonhos chavistas, o PT e aliados perderam as ruas. A adesão às manifestações de terça contra a terceirização, em várias cidades, foi, no mínimo, decepcionante. Os políticos sabem decifrar estes sinais de fragilidade.
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