- O Globo
Em todas as 13 capitais pesquisadas, a inflação está além do teto da meta. No Rio, Porto Alegre e Goiânia, está acima de 9%. Mais da metade da taxa de março é o reajuste da energia; 75% do índice são resultado da alta da luz e da alimentação. O IPCA do primeiro trimestre foi desastroso para as famílias. O risco é de os reajustes serem acima disso para garantir a margem de lucro das empresas.
A recessão ajuda da pior forma a combater a tendência de jogar os preços para cima. Quando a inflação está neste nível, de 8,2% em 12 meses, as empresas tentam garantir suas margens de lucro corrigindo produtos e contratos por um percentual acima da inflação corrente. Por causa da oscilação do câmbio, houve nos últimos tempos aumentos de custos de insumos e componentes importados. Tudo isso alimenta o círculo vicioso que mantém a inflação alta. As vendas de carros caíram 17% no primeiro trimestre, mas os preços aumentaram. Em outros produtos e serviços aconteceu o mesmo fenômeno. Neste ponto, uma boa noticia foi a forte queda do dólar ontem.
Quem olhar para dentro do índice verá a história recente. O erro cometido pelo governo de reduzir os preços da energia de forma populista e eleitoreira está cobrando seu preço agora. Mas quem paga o custo do erro é o consumidor. Os preços administrados ficaram abaixo da inflação média até dezembro. Foram, no ano passado, 5,32%, para uma inflação anual de 6,4%. Depois, deram um salto, e, no primeiro trimestre, subiram mais do que no ano passado inteiro, chegando a 8,47% em três meses. Estão em 13,32% no acumulado de 12 meses. Os preços da energia começaram a subir ao longo de 2014, mas dispararam após as eleições. Só no trimestre, subiram 36,34%. E 60,42% em 12 meses. É a vilã da inflação de 2015.
No melhor cenário, este terá sido o pior trimestre do ano, com três números acima de 1%. As previsões dos economistas de consultorias e bancos são de que os índices mensais ficarão abaixo de 1% ao mês daqui para frente, mas não abaixo das taxas do ano passado. Isso manterá a inflação em 8% ao longo do ano. As previsões mais baixas são de taxas de 7,9% em 2015.
A energia incomodará durante todo o ano, porque ela tem várias razões para subir. Houve a entrada da bandeira tarifária, depois o aumento da bandeira tarifária, os reajustes extraordinários e a correção anual. Os reajustes anuais, em que as distribuidoras repassam seus custos, são em meses diferentes, dependendo da empresa. Por isso, sua distribuição é desigual pelos estados da federação. Os reajustes extraordinários acontecem porque o governo eliminou o subsídio da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) e pelo repasse ao consumidor do custo dos empréstimos tomados pelas distribuidoras para cobrirem seus rombos no ano passado.
Em resumo: a energia subirá várias vezes em 2015, a maior parte desses reajuste é derivada de erros de gestão do setor elétrico. O governo dirá que é culpa da falta de chuvas. O país vive uma seca sim, mas, em geral, os custos jogados agora no colo do consumidor foram causados pela redução da energia decretada pelo governo no final de 2012, na tristemente famosa MP 579. E a falha nos leilões de oferta expuseram as distribuidoras ao custo do mercado à vista.
A inflação de março é a pior desde março de 1995. O Plano Real tinha então nove meses. Como se sabe, não houve congelamento no Real e por isso a inflação foi descendo devagar. O país vivia ainda a transição para o novo tempo. Outro momento da comparação é com 2003, quando o governo Lula vencia a crise de confiança em relação à sua chegada ao governo. O dólar havia disparado e isso impactou todos os preços. O PT tinha sido contra o plano de estabilização, o que alimentava a incerteza sobre os rumos da política econômica. Vencido o temor em relação à mudança de governo, o dólar caiu e os preços se acomodaram.
Agora não é nem a transição monetária nem a transição política. Vive-se a ressaca dos erros cometidos pelo primeiro governo Dilma na administração da política econômica e energética.
Isso não significa que a inflação está fora de controle, mas ela está alta demais, principalmente para um país em recessão. Com uma taxa nesse nível, todo o cuidado é pouco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário