quinta-feira, 9 de abril de 2015

Temer negocia com Dilma pacote para acalmar PMDB

• Vice-presidente tenta desarmar novas rebeliões com agrados a Renan e Cunha

• Novo articulador do governo fez líderes se comprometerem a aprovar ajuste com 'eventuais melhorias'

Ranier Bragon, Valdo Cruz, Mariana Haubert e Márcio Falcão – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Um dia após ser nomeado como novo articulador político do governo, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) começou a negociar com a presidente Dilma Rousseff um pacote de medidas para acalmar o PMDB, partido que impôs vários revezes ao Palácio do Planalto nos últimos meses e que não viu com bons olhos a indicação de Temer.

O vice acertou com Dilma a nomeação, nos próximos dias, do ex-deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) para o Ministério do Turismo, para atender a bancada do PMDB na Câmara.

Além disso, após um pedido de seu vice, Dilma chamou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para uma conversa na tarde desta quarta-feira (8). Ele vinha cobrando publicamente maior participação do PMDB no governo.

A presidente, segundo a Folha apurou, planejava dizer a Renan que o atual ministro do Turismo, Vinicius Lages, seu afilhado político, seria acomodado em outro posto com a indicação de Henrique Alves para a vaga.

Dilma também tinha a intenção de sinalizar quem será o substituto de Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal, podendo optar por um nome que tenha aceitação entre peemedebistas e petistas.

O ministro do Superior Tribunal de Justiça Benedito Gonçalves, apoiado por Renan e amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é um dos cotados. Segundo a Folha apurou, Gonçalves foi recebido nesta quarta por Dilma no Palácio do Planalto.

O futuro ministro do STF precisa ser sabatinado pelos senadores. E Renan indicara que uma escolha chancelada apenas pelo PT sofreria resistência na Casa.

Temer também articula a indicação do senador Romero Jucá (PMDB-AP) para assumir a presidência do PMDB, hoje ocupada por ele.

Jucá é visto como estratégico para viabilizar votações de interesse do Palácio do Planalto no Senado, e a ideia é dar mais poder a ele.

O pacote é uma tentativa de Temer de vencer a resistência que sua escolha para a articulação política encontrou no PMDB, num dos momentos mais tensos da relação do partido com a presidente Dilma.

Integrantes da legenda afirmam reservadamente que a indicação leva o partido de vez para o centro de um governo que enfrenta uma grave crise política.

O temor é que a nova função de Temer deflagre uma queda de braço entre os principais caciques do partido, já que Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, e Renan estavam num movimento contrário, de enfrentamento com o governo.

Aliados dos presidentes da Câmara e do Senado avaliam que existe o risco de Temer se desmoralizar como líder do partido e dentro do próprio governo se Dilma não conseguir superar a crise.
O principal problema está na Câmara. Desde que assumiu a presidência da Casa, em fevereiro, Cunha criou sucessivos constrangimentos para a presidente.

Ele evitou comentar a nova configuração da articulação política do Planalto nesta quarta, mas elogiou Temer, dizendo que ele é um dos melhores nomes para a função. Ao mesmo tempo, frisou que não mudará em nada sua conduta no comando da Câmara.
Em entrevista, Temer tentou minimizar os atritos. "Não é PT e PMDB que estão na pauta. O que está em pauta é a base aliada", disse.

Em reunião com os presidentes de partidos governistas e líderes da base no Congresso para garantir a aprovação do pacote fiscal, Temer acertou a assinatura, nesta quarta, de um documento no qual garantem que apoiam o "esforço pelo equilíbrio e a estabilidade fiscal".

O texto diz que os líderes da base "assumem o compromisso" de "apoiar o ajuste fiscal com eventuais melhorias promovidas pelo Congresso".

Oposição
O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG) disse nesta quarta que Dilma praticou uma espécie de "renúncia branca" ao seu mandato ao transferir a coordenação política de seu governo a Temer.

Para o tucano, a petista está refém de Cunha e Renan, do ministro Joaquim Levy (Fazenda) e também de seu vice: "A grande pergunta que resta é: que papel desempenha hoje a presidente? Acredito que praticamente nenhum mais".

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