Pacto e promessa por cargos
• Temer garante apoio de líderes ao ajuste fiscal e fala em iniciar nomeações para o 2º escalão
Júnia Gama e Simone Iglesias – O Globo
BRASÍLIA - Em seu primeiro dia como articulador político do governo, o vice-presidente Michel Temer tomou uma série de medidas para tentar reconstruir as relações do Palácio do Planalto com o Congresso. Em reunião com líderes e presidentes dos partidos da base aliada, firmou um pacto para que o Congresso apoie as medidas de ajuste fiscal - "com eventuais melhorias" - e evite a aprovação de propostas que gerem gastos ou redução de receitas. Ao fim do encontro, com a carta assinada em mãos, Temer anunciou que daria início às nomeações de aliados para o segundo escalão, com a distribuição dos cargos nas estatais e nas estruturas dos ministérios, que vinham sendo controladas pela presidente Dilma Rousseff e estavam congeladas desde o início do ano.
- Vamos examinar com calma e vamos resolver isso (as nomeações) porque, afinal, o governo não é de um, o governo é de todos. Todos têm que participar - disse Temer, que garantiu ainda que o ex-presidente Henrique Eduardo Alves "seguramente" assumirá um ministério.
A bancada de senadores do PMDB, a maior da Casa, recebeu atenção especial de Temer - que historicamente é ligado à bancada da Câmara. Ainda na noite de terça-feira, horas após ser anunciado como novo coordenador, ele levou ao Alvorada o senador Jader Barbalho (PMDB-PA), que retomou o mandato após se recuperar de uma cirurgia no cérebro. Jader está auxiliando Temer na construção da nova estrutura da vice-Presidência e também na formação do segundo escalão, que desde janeiro não avança. No fim da tarde de ontem, foi a vez de o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), conseguir uma reunião a sós com Dilma no Planalto para avaliar as mudanças na articulação e a nomeação de Henrique Alves para o Ministério do Turismo, ocupado por Vinicius Lages, afilhado político de Renan. A ideia era que Lages fosse designado para outro cargo-chave no governo, mas a situação continuou indefinida após a conversa.
Para melhorar a relação com outro senador importante do partido, Romero Jucá (PMDB-RR), Temer estuda se licenciar da presidência nacional do PMDB. O senador é o terceiro vice-presidente da legenda e os caciques do partido buscam agora um entendimento para que o primeiro e o segundo vice-presidentes, Valdir Raupp (RO) e Íris Araújo (GO), abram mão do posto. A reaproximação do governo com o partido começou a ser articulada na noite de terça-feira, quando Temer chamou ao Palácio do Jaburu os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros, para propor que a cúpula do Congresso trabalhe em permanente diálogo com o Executivo. Depois da reunião, o vice foi ao Alvorada comunicar à presidente Dilma o teor da conversa e como atuará na nova função.
Ainda na noite de terça, Temer também articulou a retirada de assinaturas do pedido de abertura de uma CPI do BNDES no Senado. Quando foi protocolada na tarde de terça, ela tinha 28 assinaturas, uma a mais que as 27 necessárias, mas os senadores Rose de Freitas (PMDB-ES), Ivo Cassol (PP-RO), Otto Alencar (PSD-BA), Omar Aziz (PSD-AM), Zezé Perrella (PDT-MG) e Fernando Ribeiro (PMDB-PA) - suplente de Jader Barbalho (PMDB-PA) - retiraram seus apoios.
Em conversa na noite de terça, Dilma tentou desfazer o temor no PMDB de que faltaria a Temer liberdade para atuar, dando carta branca ao vice-presidente. Temer relatou a peemedebistas que a presidente o autorizou a negociar com todos os aliados e garantiu autonomia plena.
Com o salvo-conduto em mãos, o vice-presidente vai criar uma espécie de força-tarefa para mapear os principais cargos do segundo escalão e, já na próxima semana, chamar os partidos aliados para montar a recomposição da base. O ministro Eliseu Padilha (Aviação Civil), que recusou o convite de Dilma para a articulação política, e o próprio Henrique Alves integram o núcleo que, junto a Temer, analisará a estrutura dos cargos.
O objetivo mais imediato do Planalto é viabilizar a aprovação do pacote de ajuste fiscal no Congresso para que a economia comece a dar sinais de recuperação. Por isso, já na primeira reunião de Temer como coordenador político, os líderes da base aliada assinaram documento se comprometendo com as medidas. O documento havia começado a ser articulado ainda na terça-feira à tarde, no encontro que Dilma teve com os representantes da base aliada, o mesmo em que anunciou que Temer assumiria o comando da articulação. Apesar da carta, ele admitiu que as medidas provisórias do ajuste fiscal "eventualmente" serão mudadas nas Casas.
Sobre o papel que o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) deverá desempenhar a partir de agora, o vice-presidente disse que ele continuará participando das reuniões de coordenação política, mas "cada um com suas tarefas".
- Ele vai participar, o governo é uma unidade. É claro que cada um terá suas tarefas. Eu, por exemplo, não interferirei nas questões administrativas e farei as articulações de natureza política. Mas o governo é uma unidade, todos colaboram entre si, inclusive o Mercadante - pontuou Temer.
O vice-presidente afirmou também que a tendência é que as disputas do PT com o PMDB diminuam:
- Estamos há três meses no governo, houve muitas conversações, o diálogo continua muito sólido. Eu tenho enfatizado que o Executivo só pode governar se tiver o apoio do Congresso, no sentido político e legislativo, e eles estão todos de acordo com isso.
Durante a reunião com a base aliada, Temer ouviu senadores se queixarem de não ser atendidos pelos ministros. Um deles relatou que aguarda uma confirmação de agenda com o ministro da Saúde, Arthur Chioro, há 45 dias.
- Isso é um absurdo, não pode acontecer - reagiu Temer.
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