- O Estado de S. Paulo
Na hora do aperto e na medida até do impossível, o Palácio do Planalto cede, engole em seco e absorve as derrotas sofridas no Congresso sob a liderança dos presidentes da Câmara e do Senado. Faz olhar de paisagem diante das reiteradas demonstrações de força do deputado Eduardo Cunha e das constantes provocações do senador Renan Calheiros.
Calmaria puramente cenográfica. No relato de dois interlocutores diários da presidente, se pudesse, Dilma Rousseff faria picadinho dos dois. O cargo não lhe permite qualquer gesto de retaliação. Não seria prudente nem conveniente. Nas internas do governo, no entanto, o que se vê é a deterioração completa dessa relação. Principalmente no que tange o presidente do Senado, a quem o Planalto ajudou a eleger. A ele já foi transmitido o recado, por intermédio de representantes autorizados do governo: sua nova postura de oposicionista é tida como uma atitude traiçoeira; se no futuro vier a enfrentar dificuldades decorrentes de seus processos no Supremo Tribunal Federal, que vá pedir apoio aos partidos de oposição.
Não conte com sustentação do Planalto. Ali, no Palácio, a interpretação é a de que Renan Calheiros acredita que possa "crescer" junto à opinião pública nessa fase de impopularidade de Dilma Rousseff. Esquecendo-se, no entanto, de que sua imagem não é das melhores. Para dizer o mínimo e de maneira bastante amena.
Nos bastidores a realidade nua e crua é a seguinte: o governo espera que o Judiciário faça com Renan Calheiros e Eduardo Cunha o que o Executivo não pode fazer.
O Supremo Tribunal Federal, onde o presidente do Senado tem processos, digamos que não tenha adorado o empenho de Renan Calheiros para ver rejeitada a indicação de Luis Edson Fachin, nas mãos de quem caiu o caso da pensão da filha paga por um lobista de empreiteira. No dizer de um governista de muitas estrelas, a disposição do Planalto é "fazer a operação necessária para que Renan se saia mal no Supremo". Qual operação seria essa? "Nada demais. É só pedir que o ministro Fachin seja isento".
Quanto a Eduardo Cunha, a esperança do Palácio do Planalto é de que o deputado venha a ser realmente envolvido nas investigações da Operação Lava Jato. De acordo com as informações de Palácio, a Procuradoria-Geral da República "quer o couro" do presidente da Câmara.
Nesse roteiro, caberia ao Executivo assistir de camarote ao Judiciário promover a derrocada dos dois presidentes do Legislativo e, assim, abrir passagem para o renascimento do Executivo. É um plano de voo no papel. Nada garante na pratica que dê certo.
Fator previdência. O governo tem um acordo com a base aliada e com a oposição para votar o fator previdenciário. Tudo certo, a presidente disse que não iria vetar, mas não é toda a verdade.
Ela vai vetar sim, mas só que o veto será sem efeito. Pelo seguinte: no período entre a aprovação da medida provisória no Senado e a apreciação do veto, o governo apresentará uma fórmula alternativa de cálculo, tornando inócuos tanto o veto quanto a MP.
Mulheres. A bancada feminina da Câmara não está nada satisfeita com o presidente Eduardo Cunha. Elas querem prioridade para a votação de uma proposta pela qual as mulheres tenham direito a 30% das cadeiras da Casa. Ele reluta. Quer pôr em votação depois do sistema de governo, o que a elas não satisfaz. Argumentam que, com isso e mais o distritão, estarão fora do Parlamento.
Radical. A diferença entre o discurso do PT e da oposição de crítica ao ajuste é que o PSDB não pede a cabeça do Joaquim Levy.
Nenhum comentário:
Postar um comentário