- O Globo
• Banco Central alerta contra "no vos riscos inflacionários " e defende vigilância
SÃO PAULO E RIO - O primeiro alerta veio do Banco Central. Logo pela manhã, o diretor de Política Econômica da autarquia, Luiz Awazu Pereira da Silva, advertiu contra "novos riscos inflacionários" surgidos no país e defendeu uma postura vigilante. E, logo depois, foi a vez de o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, admitir que a redução das metas de superávit primário poderá pressionar a inflação no curto prazo e levar a uma alta ainda maior da taxa básica de juros. — Você teve uma redução de meta com redução de gasto, não houve redução da meta para ampliar gastos....
Acho que a política fiscal continua neutra ou contracionista. Por outro lado, tem o impacto indireto, que não é fruto da política fiscal, é a reação do mercado à revisão das metas fiscais que, nesse curto prazo, tem sido uma depreciação cambial que pode, indiretamente, bater na inflação e requerer resposta da política monetária — afirmou Barbosa em entrevista à agência Reuters. O ministro, porém, disse acreditar que esse movimento poderá ser in vertido nas próximas semanas. E isso apesar da escalada da cotação do dólar, que ontem bateu um recorde de 12 anos, num reflexo das preocupações com o risco de o Brasil perder o grau de investimento. Mas, para Barbosa, o esclarecimento da estratégia fiscal de médio e longo prazos tende a atenuar "a resposta inicial na taxa de câmbio e na taxa de juros, de modo a não criar nenhum problema para a política monetária".
"Cenário mais realista", alega ministro
O governo anunciou na quarta-feira uma redução drástica das metas de superávit primário deste e dos próximos dois anos. A meta em 2015 foi cortada de 1,1% para 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB). Para 2016 e 2017, os objetivos foram reduzidos a 0,7% e 1,3% do PIB, respectivamente, contra 2% anteriormente nos dois anos. Além da disparada do dólar , os mercados de juros futuros reagiram mal às novas metas fiscais, com apostas de que a taxa básica — a Selic, atualmente em 13,75% ao ano e ainda em processo de elevação para controlar a inflação — subirá mais neste ciclo de aperto e demorará mais para começar a ser reduzida. Barbosa disse que já era esperada uma reação negativa do mercado às novas metas, reduzidas mais fortemente devido à frustração com as receitas do governo.
O ministro voltou a defender que os novos objetivos fiscais são mais realistas e suficientes para estabilizar a dívida pública. Ele argumentou que o governo usa diversas variáveis para chegar às projeções do comportamento da dívida, como proporção do PIB, crescimento, inflação, câmbio, juros e composição do endividamento — bem como o impacto das operações de swaps cambiais (operação equivalente à venda de dólares no mercado futuro) no pagamento de juros líquidos. — É importante trabalhar com cenário bem realista. É importante mostrar que, mesmo com esse cenário realista, a situação fiscal está controlada — afirmou Barbosa. No cenário do governo, a relação dívida bruta/ PIB vai subir até 2016 e chegar ao patamar de 66%, frente a pouco mais de 62% agora. A partir de 2017, ela se estabilizaria, cenário já rechaçado por boa parte dos economistas, cujas projeções indicam que a proporção pode chegar a 70%.
—Não é uma redução da meta para se gastar mais. É uma redução gerada principalmente pela desaceleração econômica e pela revisão das receitas adicionais que esperávamos neste ano — insistiu ele, acrescentando que não há, no momento, estudos para elevar impostos e buscar mais receitas . Mesmo com a crise política entre o Executivo e o Legislativo, o ministro afirmou que o governo continuará enviando medidas ao Congresso Nacional para dar continuidade ao ajuste fiscal: — O Estado brasileiro e a sociedade brasileira têm todos os instrumentos necessários para resolver os problemas que temos. O problema é construir consenso gradual sobre essa estratégia de solução.
Numa democracia, essa construção leva algum tempo, mas ela acontece. Na quinta-feira, o ministro se reuniu com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB- AL), para pedir apoio às propostas de redução da meta fiscal, que precisam do aval do Congresso. O próximo desafio será um encontro com o presidente do Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que recentemente anunciou seu rompimento pessoal com o governo . Para Barbosa, a economia brasileira vai começar a se recuperar no quarto trimestre deste ano, de forma gradual — embora a projeção do governo seja de que o PIB encolha 1,49% em 2015. Mais cedo, Awazu, do BC, adotara um discurso mais comedido.
E que foi interpretado por analistas como um sinal de juros mais altos no momento em que os mercados temem enfraquecimento da austeridade fiscal. — O progresso até agora no combate à inflação precisa ser equilibrado diante de riscos mais recentes que ameaçam nosso objetivo central. Portanto, devemos permanecer cautelosos nessa conjuntura particular — afirmou Awazu, em discurso no Rio. E ele completou: — É primor dial ser vigilante para garantir que a política monetária reflita o balanço de riscos do momento e permaneça adequadamente calibrada para atingir nossos objetivos — disse Awazu, referindo- se ao objetivo de ver a inflação no centro da meta de 4,5% ao fim do ano que vem.
Turbulência passageira
Os contratos de juros futuros mais curtos ampliaram a alta após as declarações. Operadores já apostam em um alta de mais 0,5 ponto percentual da taxa básica de juro na reunião da próxima semana do Comitê de Política Monetária (Copom). O ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, disse ontem que a turbulência do mercado, após a redução da meta, é passageira. Segundo Edinho, a política econômica está definida e oferece previsibilidade ao mercado. O ministro afirmou, ainda, que a presidente Dilma Rousseff escolheu uma equipe econômica que tem credibilidade e responsabilidade. Para Edinho, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, é importante para o país e para o governo.
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