Ricardo Brandt, Fausto Macedo e Julia Affonso – O Estado de S. Paulo
• Operação. Força-tarefa sustenta que documentação obtida em país europeu constitui conjunto robusto de provas que incriminam dono da maior empreiteira do Brasil, Marcelo Odebrecht; juiz Sérgio Moro decreta nova prisão preventiva da cúpula da empresa
CURITIBA - A força-tarefa da Operação Lava Jato apresentou ontem dados sobre a movimentação de contas da Odebrecht na Suíça e sustentou que a documentação constitui um conjunto robusto de provas que incriminam os executivos e o dono da maior empreiteira do País, Marcelo Bahia Odebrecht. O material serviu de base para que o juiz federal Sérgio Moro decretasse nova prisão preventiva da cúpula da empreiteira. O empresário e outros dirigentes ligados ao grupo, além da cúpula da Andrade Gutierrez - a segunda maior empreiteira brasileira - foram denunciados ontem pelo Ministério Público Federal. A partir de agora eles são acusados formalmente de crimes como corrupção ativa,organização criminosa e lavagem de dinheiro.
A Justiça Federal no Paraná, base da Lava Jato na primeira instância, terá de decidir se acolhe ou não a denúncia. Ontem, Moro atendeu pedido da Procuradoria da República para decretar nova prisão preventiva de Marcelo Odebrecht e dos executivos Márcio Faria, Rogério Araújo e Alexandrino Alencar. O juiz considerou que eles, em liberdade, representariam riscos à ordem pública, à instrução criminal e à aplicação da lei penal. Segundo a força-tarefa da Lava Jato os extratos bancários confirmam os depósitos de propinas nas contas de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, Pedro Barusco, ex-gerente de Engenharia da estatal, Renato Duque, ex-diretor de Serviços, Jorge Zelada e Nestor Cerveró, ex-diretor de Internacional.
A remessa de dados de investigação das autoridades da Suíça foram consideradas a prova cabal do envolvimento da Odebrecht com o esquema de corrupção. Segundo os procuradores, dados de offshores ainda desconhecidas pela Lava Jato, como a Smith 8c Nash Engeinnering Company, Arcadex Corporation, Havinsur SJA, Golac Project, Rodira Holdings, Sherkson Internacional, são a trilha para rastrear a lavagem de cerca de R$ 1 bilhão em contas secretas.
Os documentos apresentados e os resumos das autoridades suíças feitos à força-tarefa da Lava Jato e levados ontem ao conhecimento de Moro, indicam que a Odebrecht, teria realizado depósitos via 10 empresas offshores nas contas dos dirigentes da Petrobrás. Duas delas já eram conhecidas, a Constructora Dei Dur e a Klienfeld. São contas usadas supostamente pela empreiteira para os pagamentos e por beneficiários para recebimento de recursos. Ao todo, segundo a força-tarefa, a Odebrecht distribuiu R$ 389 milhões em propinas para ex-diretores da Petrobrás por meio de deslocamento de valores por offshores e contas na Suíça.
Deste montante foram rastreados, segundo os documentos da Suíça, pelo menos US$13,7 milhões e mais 1,9 milhão de francos suíços depositados em contas de offshores de Costa (Sagar, Quinus e Sygnus), de Pedro Barusco (Pexo) e outra de Duque (Milzart). Todas contas foram abertas na Suíça e em Mônaco.
"Prova material". De acordo com o juiz da Lava Jato, "pelo relato das autoridades suíças e documentos apresentados, há prova, em cognição sumária, de fluxo financeiro milionário, em dezenas de transações, entre contas controladas pela Odebrecht ou alimentadas pela Odebrecht e contas secretas mantidas no exterior por dirigentes da Petrobrás". "Trata-se de prova material e documental do pagamento efetivo de vantagem indevida pela Odebrecht para os dirigentes da Petrobrás, especificamente Paulo Costa, Pedro Barusco, Renato Duque, Nestor Cerveró e Jorge Luiz Zelada."
Os pagamentos ocorriam de duas formas, segundo o MPF: diretamente, pela utilização de contas em nome de três offshores das quais é a beneficiária final e, portanto, controladora, com transferências diretas dessas contas para contas controladas por dirigentes da Petrobrás. A outra forma de pagamentos era feita de maneira indireta - por meio da realização de depósitos de contas offshores em empresas baseadas em paraísos fiscais, que depois repassavam os recursos contas dos então diretores da estatal. O próprio Costa fez delação premiada e confessou ter recebido US$ 23 milhões em propinas da Odebrecht.
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