Não é um "filme de terror sem fim", como exagerou o jornal inglês "Financial Times" ao analisar a situação político- econômica brasileira, mas também não se trata de um passeio a Paquetá. No caso da economia, sequer é um filme de suspense, pois a crise e seus desdobramentos não surpreendem quem acompanha o assunto sem partidarismo.
Era certo que o congelamento de tarifas públicas, o desregramento fiscal e a insistência com incentivos ao consumo, quando a fórmula já estava esgotada, criariam sérios problemas. Ao contrário do que alardeava a propaganda eleitoral da presidente Dilma. A situação é séria, mas a terapia é conhecida, tendo sido testada com êxito no início da Era PT, no começo do primeiro mandato de Lula, com Antonio Palocci na Fazenda e Henrique Meirelles no Banco Central. Agora, estabilizar a economia é missão de Levy e Nelson Barbosa, da Fazenda e do Planejamento. Há o agravante da crise política, porém, não existe alternativa ao ajuste. Ou políticos e governantes tratem de preparar o eleitorado para um longo período de nenhum crescimento, inflação elevada e desemprego alto.
Para evitar este cenário - aí, sim, de terror - é imperioso um combate duro à inflação, em 6,17% apenas no primeiro semestre, muito próxima aos 6,5% do teto superior da meta para todo o ano. Daí, analistas do mercado apostarem hoje numa inflação próxima aos 10% para 2015. Pode-se, portanto, voltar à faixa dos dois dígitos, repetindo-se 2003. É nisso que resultou a leniência com a inflação, no primeiro mandato, em que a meta, de 4,5%, foi informalmente ampliada para algo acima dos 6%.
Quando veio o choque tarifário, não havia margem de acomodação. E o choque teve de ser dado porque as tarifas foram congeladas, para conter artificialmente a inflação, e, assim, aplainar o terreno da reeleição. Não atualizá-las significaria manter o Tesouro sob pressão, para subsidiar a conta de luz, e a Petrobras, em sangria constante, por vender combustíveis abaixo do custo etc.
É verdade que, no ano que vem, não deverá haver choque tarifário, e, como a base de comparação entre os índices será elevada, pode-se prever, com alguma segurança, para 2015, um relativo desafogo no front da inflação.
O desafio é fazer essa travessia com o menor dano possível. A economia brasileira ainda é muito indexada (contratos de aluguel, reajuste do salário mínimo, por exemplo). Daí a necessidade de um vigoroso combate ao surto de inflação, a fim de evitar a volta, com força, da sua realimentação.
Infelizmente, não cabe o argumento de que, como em boa medida a responsabilidade da inflação tem origem em tarifas públicas, acionar a política monetária (elevar juros, já acima dos 13,5%) é inócuo, além de ser um método de alto custo (na dívida pública, no desaquecimento econômico). Seria assim, se o problema estivesse circunscrito às tarifas reguladas. Mas não está. É grande a dispersão na remarcação de preços. Esse é o cenário da reunião do Copom, semana que vem.
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