Por André Guilherme Vieira - Valor Econômico
SÃO PAULO - A delação premiada do ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, que relatou que parte das doações eleitorais oficiais feitas à chapa Dilma Rousseff / Michel Temer em 2014 foi uma contrapartida em propina por contratos obtidos com estatais, agravou a situação da campanha presidencial - já investigada em 4 procedimentos que tramitam no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). As informações podem dar novo fôlego ao processo de cassação da chapa Dilma-Temer.
Fontes próximas às investigações da Operação Lava-Jato avaliam que documentos entregues por Azevedo e outros executivos da empreiteira reforçam "consideravelmente" a prova de que a Justiça Eleitoral teria sido usada para dar aparência de legalidade às doações originadas em ilícitos. Na prática, ampliaram-se as evidências de uso do caixa oficial para alimentar o caixa dois partidário com propina do esquema de corrupção e formação de cartel investigado na Petrobras, Eletronuclear e na obra da Usina de Belo Monte.
Otávio Azevedo é o segundo empreiteiro a confirmar o suposto esquema em delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR). No ano passado, o dono da UTC/Constran, Ricardo Pessoa, já havia implicado a chapa Dilma/Temer em sua colaboração premiada.
As doações da Andrade Gutierrez se dividiram generosamente entre o PT e o PMDB e a principal sigla oposicionista, o PSDB. Segundo o TSE, o PT recebeu em doações da Andrade Gutierrez dentro e fora do período eleitoral, em 2014, cerca de R$ 35,6 milhões. Para a legenda tucana, foram R$ 41 milhões, incluindo colaborações para a campanha e as destinadas ao Diretório antes do início do período eleitoral. O PMDB recebeu um total de R$ 35,4 milhões, segundo o TSE.
"Reputou-se comprovado o direcionamento de propinas acertadas no esquema criminoso da Petrobras para doações eleitorais registradas", afirmou o juiz titular da Lava-Jato em Curitiba, Sergio Moro, ao remeter ao TSE, em outubro de 2015, informações sobre as investigações e processos que tramitam na primeira instância da Justiça Federal do Paraná.
Moro se referia na ocasião aos delatores Alberto Youssef (doleiro), Paulo Roberto Costa (ex-diretor de Abastecimento da Petrobras), Pedro Barusco (ex-gerente da petrolífera), Augusto Mendonça Neto (empresário do Grupo Setal), Milton Pascowitch (lobista) e Ricardo Pessoa. De acordo com Moro, eles "declararam que parte dos recursos acertados no esquema criminoso da Petrobras eram destinados a doações eleitorais registradas e não registradas".
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