- O Estado de S. Paulo
Depois do primeiro turno da eleição, o governo Temer espera alcançar seu ápice político – se a realidade não atrapalhar. Catalisador da oposição, o PT sairá das urnas menor ou igual a quando chegou ao poder federal: corre risco de retroceder até 12 anos em influência nos municípios. PMDB, PSDB e companhia contam com a perplexidade petista após 2 de outubro para aprovar o que querem e precisam no Congresso – antes que sindicatos e movimentos sociais reajam e pressionem os parlamentares.
Por conta disso, não chamam mais a emenda constitucional dos cortes de gastos pelo que ela é, mas como querem que seja vendida à população: PEC do equilíbrio das contas públicas. Tentarão votá-la na Câmara dos Deputados até 11 de outubro (véspera de feriado, o que é sinônimo de deserção em Brasília), para dar tempo de a emenda tramitar e ser aprovada no Senado ainda em 2016 – e, assim, começar a valer já no próximo ano.
Na estreia do Palácio da Alvorada como centro de poder do novo governo, Temer ouviu dos líderes do PMDB, PSD, PR, PP e DEM que eles vão fechar questão na Câmara, obrigando seus deputados a aprovarem os cortes. O PSDB diz que nem precisa fazer isso, de tão convencida e convicta que está sua bancada. A ver.
Mesmo se os seis partidos lhe forem 100% fiéis e presentes, Temer ainda precisará pescar outros 73 votos nas legendas mais fisiológicas do Congresso, como PTB e PRB. Não é à toa que os dois ministros encarregados da articulação política – Eliseu Padilha e Geddel Vieira Lima – tiveram picos de pressão alta nos últimos dias e precisaram ser medicados. É tudo ou nada.
Na estratégia política e econômica da aliança tucano-peemedebista, aprovar cortes de gastos públicos para os próximos anos – incluindo despesas com saúde e educação – é condição indispensável para a retomada da confiança do empresariado, do fluxo de capital externo e da benevolência das agências avaliadoras de risco – Fitch, Moody’s e S&P –, que ocuparam o protagonismo no capitalismo mundial que um dia foi do FMI.
Uma derrota estrondosamente inédita em tamanho e intensidade do PT nas urnas é também importante para os novos donos da Esplanada deslegitimarem a narrativa do golpe. Temer, PMDB e PSDB usarão o resultado eleitoral para dizer que apenas se anteciparam à vontade da população apeando os petistas do poder. Mais do que isso, ao apequenamento do PT deve corresponder, principalmente, um crescimento do PMDB e do PSDB nos municípios.
Prisões de poderosos ex-ministros próximos ao eterno presidenciável do PT – Lula – às vésperas da eleição são oportuna coincidência nesse calendário. Ou, pelo menos, é assim que o governo Temer gostaria que as operações policiais fossem compreendidas, a despeito da antecipação de que elas ocorreriam de maneira mal disfarçada pelo ministro da Justiça.
Se tudo correr como PMDB e PSDB esperam, o PT elegerá um prefeito de capital apenas: em Rio Branco, no Acre. Tão ou mais importante, perderá São Paulo – de onde sairia, nos planos de Lula, a principal liderança para renovar o partido. A eventual derrota de Fernando Haddad ainda no primeiro turno é o símbolo mais importante de que o PT não tem futuro político-eleitoral.
Esse é o cenário de sonho de Temer. Mas nem só as emas do Palácio da Alvorada podem atrapalhar o sono (puseram o cão de Michelzinho para correr) do novo presidente. O eleitor também.
O encurtamento da distância entre Haddad e Marta (PMDB) nas pesquisas acendeu a esperança nos petistas de que o prefeito vá ao segundo turno contra o tucano João Doria. Nove pontos ainda separam Haddad de Celso Russomanno, mas viradas de última hora são a marca da eleição paulistana – como os favoritos Fernando Henrique em 1985 e Paulo Maluf em 1988 descobriram tarde demais.
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