- O Globo
O mundo pode estar às vésperas de uma crise. É o que acha o economista José Roberto Mendonça de Barros. A economia dos Estados Unidos está recebendo estímulo demais, em momento de pleno emprego e elevando muito o déficit público. Isso pode produzir, a curto prazo, uma alta da inflação, subida de juros e volatilidade. O próximo governo brasileiro pode encontrar a economia externa em pior situação.
OFundo Monetário Internacional divulgou ontem seu relatório da economia mundial dizendo que ela está mais forte. Segundo o FMI, os países avançados estão crescendo acima do seu potencial, o que abre muitas possibilidades para as economias emergentes. Mas alerta que os governantes devem aproveitar o momento e criar as condições de sustentar o crescimento em cenários mais adversos.
O Brasil nem está, de fato, aproveitando o momento. Saiu da recessão, mas cresce num nível muito baixo. “Não é a recuperação dos sonhos, mas é recuperação", consola José Roberto. O problema é que em relação ao Brasil há a incerteza sobre o que será a política econômica do próximo governo. Enquanto decidimos o rumo do país, o mundo pode piorar.
— A economia americana está com pleno emprego, e nos últimos quatro meses recebeu o impacto de uma alta de demanda de US$ 1 trilhão através da redução de impostos. Além disso, foi enviado ao Congresso um orçamento altamente expansionista. O governo Trump está, ao mesmo tempo, subindo as tarifas para bens que estão na base da produção, como aço e alumínio. Bobinas a quente de aço tiveram alta de preço de 37%. O governo Trump está provocando um choque de demanda, com aumento de gastos e redução de impostos, e um choque de oferta com decisões que elevarão preços básicos — explicou José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados.
O governo Trump reduziu as alíquotas de impostos, como havia prometido na campanha, na expectativa de que as empresas americanas tivessem mais competitividade. Ele herdou um país com um desemprego muito baixo, após o esforço do governo Barack Obama para tirar os EUA da crise, que estourou em 2008. Com baixo desemprego e muitos estímulos, o resultado costuma ser inflação, o que levaria a juros mais altos. Isso sem falar no orçamento com mais gastos.
— O governo Obama deixou o governo em dezembro de 2016 com um déficit em 12 meses de US$ 582 bilhões. O último dado do escritório de orçamento do Congresso americano é de que agora está em US$ 738 bilhões, e deve chegar em US$ 800 bi em setembro e US$ 1 trilhão em 2020.
Isso tudo está, segundo José Roberto, “aumentando o vapor na chaleira” e, por isso, ele acredita que “o ambiente econômico vai mudar para pior em algum momento no final do ano", exatamente quando o Brasil estará se preparando para dar posse ao novo governo.
A disputa entre Estados Unidos e China é outro fator de complicação. Ele acha que ainda não há uma guerra comercial, mas os países já mostraram as armas. Mais do que a briga por produtos específicos, o que está posto é uma disputa pelo domínio da alta tecnologia. Tudo isso levará a muita volatilidade.
— Se olharmos 2011 como a base 100, o índice Standard&Poors subiu 190%. Mas se pegarmos apenas a cesta das ações de empresas de alta tecnologia, vamos ver uma alta de mais de 400%. Como elas estão diante de grande risco de regulação, esse setor pode sofrer o impacto de uma mudança de ambiente econômico — diz José Roberto.
O relatório do Fundo Monetário também mostra a força do momento e o risco mais adiante. “Para muitos países, as taxas atuais de crescimento favoráveis não vão durar", avisa o FMI. O texto alerta para uma escalada de restrições e retaliações comerciais. “O crescimento global está em ascensão, mas as condições favoráveis não vão durar para sempre e agora é o momento de estar preparado para tempos mais magros", diz o relatório. Ou seja, há uma notícia boa e outra ruim nesse texto, como os economistas costumam fazer.
O Brasil está mergulhado nas suas confusões políticas, interrompeu o pouco de reformas que fez, e os cenários para frente são totalmente opacos. Se o mundo entrar num ciclo ruim, como resultado das trapalhadas econômicas de Trump, a situação fica bem mais difícil para o Brasil no próximo governo.
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