quarta-feira, 18 de abril de 2018

Vinicius Torres Freire: Para onde vai o dólar?

- Folha de S. Paulo

Baixa dos juros aqui e altas nos EUA e fraqueza econômica explicariam altas recentes do dólar

O dólar passa apenas uma temporada na casa dos anos R$ 3,40 ou vai se mudar de novo? Muda-se de volta para o andar de baixo, para os R$ 3,25 onde viveu mais ou menos no ano passado? Ou sobe mais andares?

Sobe. Isto é, sobe caso continue a diminuir a diferença entre taxas de juros de EUA e Brasil (e nenhum outro fator de influência na taxa de câmbio se altere de modo relevante). É a hipótese de Julia Gottlieb, economista do Itaú, explicada em relatório divulgado nesta terça (17).

Recorde-se que, nessas corridinhas recentes do dólar, especulou-se que o risco de guerra comercial no mundo e a baixa votação de presidenciáveis “reformistas” no Brasil teriam contribuído para a desvalorização do real. No entanto:

1) moedas de países emergentes se moveram em direção contrária à do real. Não parece que um problema global tenha afetado o câmbio aqui;

2) candidatos preferidos pelos donos do dinheiro vão mal faz tempo, sem perspectiva razoável de mudança em breve;

3) os indicadores financeiros brasileiros começaram a azedar de leve desde meados do mês passado.

A relação entre diferenças de juros e dólar está nos manuais, mas não parece muito evidente quando se observa o comportamento histórico do câmbio, influenciado por um tumulto variado de fatores e por especulação, no curto e médio prazo. E daí?

Em janeiro de 2017, a diferença entre a taxa básica de juros de Brasil e Estados Unidos estava em 12,5 pontos percentuais, caindo para cerca de 5 pontos em março. Mas não mudou tanto assim neste ano.

Os dados de Julia Gottlieb indicam, porém, que o efeito da queda da taxa Selic no câmbio (“no dólar”) tende ser maior quanto menor a diferença entre juros aqui e lá fora. Em tese, portanto, essa diferença tenderia ainda a afetar o câmbio nos próximos meses, tudo mais constante.

O Banco Central deve fazer mais um corte na Selic, em maio, pelo menos. Os juros americanos vão continuar a aumentar. Caso a lerdeza econômica persista e a inflação continue baixa até 2019, pode ser que a Selic baixe ainda mais.

Quanto mais o dólar poderia se valorizar? As melhores casas do ramo do chute econômico informado não acreditam em dólar muito longe de R$ 3,30 no final do ano.

Em parte, estão influenciadas pela tranquilidade nas contas externas: déficit externo diminuto, financiamento e investimento externos abundantes, reservas internacionais ainda exageradas.

De resto, parecem acreditar que nenhum demente ou desafeto extremo do “mercado” vai ganhar a eleição, que a economia vai crescer pelo menos uns 2,5% e que a Selic para logo de cair, em maio. Parecem acreditar, pois, que a recuperação econômica volta com força no segundo trimestre (apenas teria prolongado as férias do verão frio de vendas e produção).

A recaída hipotérmica seria passageira. Não seria preciso levar os juros reais a zero. Devem cair a 2% em maio e por aí ficar. Lembre-se de que tivemos picos de juros reais de 9% em 2015, quando se viu que quebramos. Em abril de 2016, os juros básicos reais estavam em 6,6%; em abril de 2017, em 4,7%.

Olhando o mundo deste abril de 2018, são perspectivas otimistas, tanto a respeito da política quanto ao crescimento da economia.

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