sábado, 26 de janeiro de 2019

Fórum de Davos faz apelo contra a desigualdade

Diferença entre o salário de um executivo e o de um trabalhador médio saltou 970% em 40 anos, aponta pesquisa. Secretária das Nações Unidas lembra que ‘igualdade é um pré-requisito do desenvolvimento’

Vivian Oswald | O Globo

DAVOS (SUÍÇA) - Sob a sombra da insatisfação das populações com o descolamento entre a elite e o cidadão comum — um dos grandes riscos para o crescimento global, segundo especialistas ouvidos pelo GLOBO —, o Fórum Econômico Mundial, de Davos, na Suíça, terminou ontem em uma nota mais humana. Mais do que nunca, é preciso combater as desigualdades sociais, que aumentaram com as novas tecnologias da chamada Revolução 4.0. Ontem, o Fórum mostrou que a diferença entre o salário de um executivo e o de um trabalhador médio saltou 970% nas últimas quatro décadas. A proporção passou de 30 para um em 1978 para 321 para um. Na década de 1970, a média global do Imposto de Renda estava em 62%. Agora, recuou a 38% nos países ricos e 28% nas nações em desenvolvimento. Em muitos países, as alíquotas de IR mais elevadas, que incidem sobre os ricos, foram abolidas, enquanto US$ 170 bilhões são enviados anualmente para paraísos fiscais. — A igualdade é um pré-requisito do desenvolvimento, se não do próprio crescimento, na medida em que as economias são ineficientes sem a igualdade que incentiva a educação e a saúde, para transformá-las em produtividade — afirmou Alicia Bárcena Ibarra, secretária Executiva da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe das Nações Unidas. — Igualdade, produtividade e democracia vêm juntas.

MAIS COOPERAÇÃO GLOBAL
Criou-se um verdadeiro abismo entre ricos e pobres. Enquanto os 10% mais ricos ganham o equivalente a US$ 104 milhões por hora, os 3,8 bilhões mais pobres da população perdem US$ 20 milhões por hora. Os números são da ONG Oxfam. Este cenário se torna ainda mais insustentável na medida em que as mesmas pessoas que perdem veem instituições financeiras e grandes corporações globais exibirem lucros cada vez maiores desde a crise financeira de 2008.

A lista de soluções apresentadas pelo Fórum inclui cooperação entre setor privado e Estado, entre os diversos países, entre as várias indústrias. Além do combate à evasão fiscal, para que os recursos recuperados sejam investidos na redução das desigualdades. O apelo à cooperação foi reforçado sobretudo para conter disputas como a guerra comercial entre Estados Unidos e China, uma das principais ameaças para a economia global, segundo os participantes do Fórum. A projeção para o crescimento deste ano foi revisada para baixo pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), para 3,5%. A estimativa ainda é positiva, mas bancos e organismos multilaterais não fizeram cerimônia em Davos ao usar a palavra “recessão” para descrever o que pode ocorrer.

PROTECIONISMO CUSTA CARO
O custo do protecionismo é alto: pode reduzir o crescimento econômico entre 6% e8%no ano. Isso se EUA e China chegarem a um acordo e não aplicarem as sobretaxas recíprocas de 25%. Sem acordo, a expansão global poderia ser até um terço menor. Os percentuais foram calculados com base nos dados apresentados ontem pela economista-chefe da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), Laurence Boone, aplicados sobre a taxa de expansão de 3,5% prevista para este ano.

Se o Fórum de 2018 terminou sob a ameaça da guerra comercial, o deste ano encerrou sem que se saiba quando ela vai terminar e quais são os estragos para as economias e para as próprias desigualdades sociais.

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