Depois de Mariana, Brumadinho reforça imagem de desatenção com as barragens de mineração
Há uma trágica tradição brasileira de não se aprender com os erros. Ela costuma estar mais presente no setor público, mas, como demonstra o segundo rompimento de barragem numa mina de ferro em Minas Gerais, em pouco mais de três anos, também pode contaminar grandes corporações privadas.
A Vale está associada com a australiana BHP na Samarco, dona da barragem do Fundão — também de rejeitos de mineração —, responsável pelo maior desastre ambiental da história brasileira, ocorrido em novembro de 2015.
O estouro da represa devastou o vilarejo de Bento Rodrigues, subdistrito de Mariana, destruiu a fonte de sustento de incontáveis famílias, matou 19 pessoas e causou uma devastação em ecossistemas incalculável. Afetou o Rio Doce e poluiu sua foz a mais de 600 quilômetros de distância. Não se sabe ao certo quanto tempo levará para a restauração da natureza. Se é que haverá. Uma tragédia de repercussão mundial. Era de se esperar que rígidas medidas seriam tomadas para que um desastre deste tipo não se repetisse. Até porque há algumas informações disponíveis sobre a situação das barragens, que se multiplicam em Minas devido à atividade de mineração no estado.
Há 839 barragens de mineração no país, sendo que Minas abriga 44% delas, ou 369. A Agência Nacional de Águas (ANA), por exemplo, constatou em 2017 que havia 45 barragens de água em todo o país com problemas sérios de estrutura. O número havia quase dobrado em relação a 2016, e pouco mais da metade pertencia a organismos públicos. Mas a própria qualidade técnica dessas avaliações está agora em xeque. O presidente da Vale, Fabio Schvartsman, admitiu à GloboNews ainda não saber o que aconteceu. E lembrou que depois da tragédia de Mariana a empresa executou detalhado levantamento das condições de seus reservatórios. Mesmo assim, não conseguiu evitar mais este desastre, que, até o início da noite, contabilizava cerca de 150 desaparecidos.
O próprio Fabio Schvartsman reconheceu que, diante deste desastre, não se pode dizer que “aprendemos” com Mariana. Há, portanto, importante dever de casa a ser feito na Vale, em outras mineradoras, assim como nos órgãos públicos, para se saber onde estão as falhas nos diversos protocolos técnicos na avaliação e mesmo manutenção desses reservatórios, de alto poder de destruição.
A barragem da Mina Feijão, em Brumadinho, próximo a Belo Horizonte, que rompeu ontem, consta de cadastro da Agência Nacional de Mineração (ANM) como de baixo risco de acidentes e de alto potencial de danos. Infelizmente, apenas a segunda parte do diagnóstico da agência está confirmada: a capacidade de destruição do reservatório não era desprezível.
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