segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Guaidó diz que intervenção militar é opção

Declaração à Folha ocorre após fracasso de tentativa de entrar com ajuda humanitária, comemorada por regime de Maduro

Sylvia Colombo | Folha de S. Paulo

BUENOS AIRES - O presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, afirmou neste domingo (24) que uma intervenção militar deve ser considerada como opção contra a ditadura de Nicolás Maduro.

Guaidó havia dito em uma rede social que os acontecimentos do sábado, quando a tentativa de entrada de caminhões de ajuda humanitária na Venezuela foi reprimida, o obrigavam a tomar uma decisão: “Sugerir à comunidade internacional de maneira formal que devemos ter abertas todas as opções para conseguir a libertação desta pátria que luta e seguirá lutando”.

Indagado pela Folha, em entrevista por telefone neste domingo (24), sobre se estava fazendo referência a uma intervenção militar, Guaidó respondeu: “Eu quis dizer exatamente isso, que devemos considerar todas as opções”
.
“A Constituição venezuelana dá à Assembleia Nacional o direito de solicitar apoio desse tipo. Não é o que buscamos, mas é uma possibilidade que, responsavelmente, não podemos descartar dada a atitude das forças e interesses que sustentam a usurpação na Venezuela.”

Recém-chegado a Bogotá, onde participa, nesta segunda (25), da reunião do Grupo de Lima, Guaidó disse não temer como irá voltar à Venezuela.

Afirmou ter entrado na Colômbia com ajuda de militares que apoiam sua causa e que o número deles vem crescendo, e que não teme como será o retorno.

O Grupo de Lima é formado por 14 países das Américas, dos quais apenas o México não reconhece o Guaidó como presidente interino da Venezuela. O vice-presidente Hamilton Mourão representará o Brasil na reunião.

Voltou a elogiar os oficiais que aproveitaram a confusão do último sábado para desertar do Exército venezuelano. Cerca de 60 oficiais ficaram na Colômbia, e dois sargentos desertaram e pediram refúgio em Pacaraima (RR).

"Eles fizeram a coisa certa e queria alentar que outros os seguissem. Disseram-me que o fizeram por suas famílias e pelo país e terão anistia".

E acrescentou: "Tivemos uma oportunidade única de fazer entrar em nosso país alimentos e remédios de que nossa população tanto precisa, e isso foi impedido, houve feridos e mortos. É uma lástima desperdiçar a oportunidade. Mas é preciso seguir adiante."

Indagado sobre o papel do Brasil nas tentativas do sábado, Guaidó respondeu: "O governo do Brasil fez tudo o que pôde apoiando a entrada da ajuda humanitária, e o fez corretamente, sem ingressar no território da Venezuela. Estou muito agradecido".

"Além disso, o Brasil foi testemunha da repressão brutal que as forças que respondem a Maduro cometeram contra a população venezuelana da fronteira, especialmente contra a população indígena dos pemón", disse.

"Estes crimes que estão sendo cometidos pela ditadura são terríveis, não podem e não ficarão impunes."

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