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O triste destino do primeiro indígena presidente da Bolívia
Foi Evo Morales que cavou o buraco em que se meteu ao tentar se eternizar no poder. Mas fora da legalidade, nenhuma solução será aceitável para superar a crise política que convulsiona a Bolívia.
A Constituição previa que Morales governasse até duas vezes consecutivas. Ele contornou a Constituição e governou três. Por fim, deu um jeito para disputar pela quarta vez um novo mandato.
Então convocou um plebiscito para que os bolivianos dissessem se isso seria desejável – eles responderam que não. Morales driblou o plebiscito e arrancou da Justiça uma permissão para disputar.
A Organização dos Estados Americanos declarou que foi fraudulenta a eleição que daria a Morales mais um mandato. Quando ele concordou em chamar uma nova eleição já era tarde.
Não tinha mais condições para governar. Perdera o apoio de aliados tradicionais como a Igreja Católica e a Central que reúne os sindicatos de trabalhadores. Perdera também o apoio das ruas.
Se, na undécima hora, tivesse anunciado que se limitaria a cumprir seu mandato até o fim, passando a faixa presidencial ao sucessor a ser eleito em breve, talvez não tivesse caído. Não o fez.
Uma coisa é a pressão social legítima que pode forçar a queda do governante que se tornou um estorvo para parte do seu povo. Outra bem diferente é o uso da violência e a intervenção militar.
Em países onde os adversários da democracia se aproveitam da liberdade que ela lhes concede para enfraquecê-la e, se possível, destruí-la, todo cuidado é pouco para não dar lugar a retrocessos.
Às Forças Armadas cabe zelar pela ordem, não favorecer grupos políticos. O comandante do Exército boliviano exorbitou ao se pronunciar publicamente sugerindo a renúncia a Morales.
O ex-presidente foi obrigado a se esconder para escapar do risco de ser preso ou de algo pior, uma vez que a casa de uma irmã dele havia sido incendiada por vândalos travestidos de manifestantes.
A ambição desmedida de Morales pelo poder não será capaz de apagar as conquistas econômicas e sociais da Bolívia registradas durante seu extenso período de governo.
O tratamento que se lhe dê depois da queda, e o que venha acontecer com o país daqui para frente, poderão ser determinantes para reabilitar Morales mais cedo do que seus adversários supõem.
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