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Bravatas e caça a votos
Antes de se recolher ao seu quarto de dormir no Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro fez questão de protagonizar mais dois fatos. O primeiro: desautorizou a Advocacia Geral da União que anunciara que não recorreria da decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, de suspender a posse de Alexandre Ramagem como diretor da Polícia Federal.
O segundo: em sua página no Twitter, acusou a Organização Mundial de Saúde de incentivar a masturbação e a homossexualidade de crianças. O post ficou no ar o tempo suficiente para ser copiado e distribuído pelos interessados, principalmente bolsonaristas de raiz. Mais tarde foi apagado – ou por Bolsonaro ou por seu filho Carlos.
Bravatas, só bravatas. Tão logo soube da decisão do ministro Alexandre de Moraes, o próprio Bolsonaro assinou portaria tornando sem efeito a nomeação de Ramagem para o comando da Polícia Federal. Devolveu-o à direção da Agência Brasileira de Inteligência, de onde fora removido. Portanto, não tem mais como recorrer de nada porque ele mesmo revogou a nomeação.
Por si só, o ato de apagar a mensagem ofensiva à Organização Mundial de Saúde prova que Bolsonaro só a escreveu para provocar alarido e causar polêmica. Bravata pura, do contrário não a teria suprimido. Há poucas semanas, ele editou um trecho de pronunciamento do diretor da Organização para reforçar sua posição contra o confinamento social. Pego em flagrante, recuou.
Antes do advento das redes sociais, Bolsonaro valia-se de falas bizarras para atrair a atenção dos jornalistas. Comportou-se assim como deputado durante quase 28 anos. Com o surgimento das redes, correu para elas à procura do espaço que lhe era sonegado por jornais e emissoras de televisão. Ocorre que a pandemia reforçou a confiança na mídia tradicional em detrimento das redes.
Então Bolsonaro deu meia volta. Sem desprezo às redes onde nada de braçada, empenha-se em ocupar todos os espaços possíveis na mídia que faz questão de apresentar como sua inimiga. Admita-se: está sendo bem-sucedido. O cercadinho à entrada do Palácio da Alvorada deixou de ser seu principal parque de exposição. Agora, exibe-se por toda parte e aproveita todos os momentos.
É menos o presidente que se exibe e mais o candidato à reeleição em campanha. Enquanto seus possíveis adversários em 2022 se calam ou enfrentam desafios administrativos nos Estados, Bolsonaro deixa seus desafios aos cuidados de quem possa administrá-los e se dedica a contar votos. Votos para barrar seu impeachment no Congresso. Votos para ganhar um novo mandato.
Ser não lhe abreviarem o mandato, poderá sucumbir a dois inimigos de peso: a herança de mortos deixada pela passagem do coronavírus e a recessão econômica que será histórica.
Um ministro sem nenhuma utilidade
A não ser para quem o empregou
Da senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP), o ministro Nelson Teich, da Saúde, ouviu o esculacho que o deixou meio sem jeito: “O senhor tem que ter pulso firme. Do contrário vai acabar com sua biografia”.
Não foi o único esculacho. Convidado, Teich participou de uma videoconferência com senadores onde demonstrou mais uma vez sua completa inadequação ao cargo que ocupa.
Ou por desconhecimento dos fatos ou porque foi orientado a proceder assim, não respondeu de maneira satisfatória a nenhuma pergunta que lhe foi feita durante mais de duas horas.
O que os testes aplicados em doentes de coronavíorus revelam até agora? Resposta evasiva: os testes não permitem que se consiga saber muitas coisas a respeito da realidade.
Quando a doença atingirá o seu pico? Resposta: não se sabe ao certo. Ninguém sabe. Haverá uma segunda onda do vírus? Resposta: pode haver, sim, mas não é possível assegurar.
E o isolamento social? Resposta: perguntar se se deve ficar em casa ou sair de casa é uma pergunta simples demais. (Em momento algum o ministro recomendou que se fique em casa.)
Quanto ao comportamento do presidente Jair Bolsonaro em relação à pandemia… Resposta: não vou discutir o comportamento de ninguém, mas o presidente se preocupa, sim, com as pessoas.
Foi esculachado pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE): “Estou tremendamente frustrado com as respostas”. Hoje, em entrevista, o ministro voltará a exercer sua habilidade de falar sem dizer nada.
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