quinta-feira, 30 de abril de 2020

Mariliz Pereira Jorge - O que eu quero, Bolsonaro?

- Folha de S. Paulo

Obrigada por ter perguntado, presidente

Jair Bolsonaro insiste na narrativa de que não tem nada a ver com as mortes causadas pela Covid-19. Vai que cola. "E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?", ele pergunta. Obrigada por ter perguntado, presidente. Aqui vão algumas sugestões do que fazer, visto que o senhor parece meio sem ideia.

Uma medida urgente é que você pare de brincar de roleta russa com a vida do brasileiro. O Imperial College diz que o Brasil tem a maior taxa de contágio do coranavírus do mundo e prevê mais de 5.000 mortes, na próxima semana. Diferentemente do que você disse, se insistir em abrir o comércio, quem corre risco é o povo. O único risco a que você se expõe é ser tachado de genocida. Mas e daí?

O que eu quero, Bolsonaro? Que você peça desculpas por ter dito que é gripezinha, histeria, fantasia. Que o vírus está indo embora, que está superdimensionado, que brasileiro pula em esgoto e não pega nada, que todo mundo vai morrer um dia.

O que mais eu quero? Que você pare de tentar interferir nas investigações da Polícia Federal para proteger seus filhos, que mostre os resultados de todos os seus exames para Covid-19, que trate jornalistas sem parecer um cavalo, que não cumprimente as pessoas com a mão cheia de perdigotos, que desista de estimular e de participar de atos golpistas. Entenda, você até "manda", mas não é dono do país.

Por fim, deixe que os governadores façam o que você não tem feito, tentar preservar vidas. Já dizia qualquer avó: se não for para ajudar, não atrapalhe. Aproveite e demita o incompetente do Weintraub e também o Ricardo Salles, antes que não sobre uma árvore em pé na Amazônia. Antes que eu me esqueça, conta pra gente, cadê o Queiroz?

Se nada disso for possível, tenho uma sugestão muito mais simples. Renuncie. E, por favor, leve junto para o inferno os zeros à esquerda dos seus filhos. Se Deus realmente existe, é para lá que vocês vão.

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