Partidos
que crescem não vão disputar Presidência
As
eleições municipais registraram crescimento dos seguintes partidos na malha de
prefeituras espalhada pelo país: PP (de 495 para 682), PSD (de 537 para 650),
DEM (de 266 para 459), PL (de 294 para 345) e Republicanos (de 103 para 208).
Estes cinco partidos somaram 1.695 conquistas em 2016. Foram 2.344 agora, ou
38% a mais.
Em
comum, estes partidos têm a característica de estarem vocacionados para as
eleições de caráter local e parlamentar. Não são legendas para disputar a
Presidência, salvo às vezes fornecendo o nome para vice em alguma chapa, como
fez o PP em 2018 e o DEM em 2010, acompanhando os candidatos tucanos. O PP não
lança candidato próprio à Presidência desde 1994, quando ainda se chamava PPR.
o DEM não o faz desde 1989, ocasião em que era o PFL. PSD, PL e Republicanos
jamais o fizeram. São, portanto, coadjuvantes, e não protagonistas do jogo
presidencial.
Os
partidos que tradicionalmente são atores da eleição maior tiveram encolhimento
de malha. O MDB (candidaturas próprias em 1989,1994 e 2018) caiu de 1.035 para
773. O PSDB minguou de 785 para 512. O PDT deslizou de 331 para 311. O PSB
despencou de 403 para 250. E o PT saiu de 254 para 179. Somados, recuaram de
2.808 para 2.025, queda de 28%. A conta pode mudar um pouco com o segundo
turno, mas nada que altere o eixo da Terra.
Sem
legenda, Bolsonaro não fixou em lugar algum o bolsonarismo. Esta foi uma
eleição em que o coração governista ficou de fora, salvo uma ou outra incursão
desastrada do presidente por alguma eleição local.
O
resultado da eleição tomado pelo atacado, ou seja, pela soma da quantidade de
prefeituras conquistadas pelas grandes siglas, mostra uma diminuição da
polarização e do efeito nacional sobre as eleições locais, que já não era lá
muito grande.
Mesmo
sendo bastante tênue, a polarização nacional ainda assim se refletia na
competição pelas prefeituras. PT e PSDB viveram ciclos de crescimento nas bases
municipais enquanto monopolizavam as eleições presidenciais, entre 1994 e 2014.
Agora não há mais o corte entre bolsonarismo e antibolsonarismo. Nem como
efeito da eleição de 2018, nem como projeção do que pode ser a escolha para o
Legislativo e a presidencial em 2022.
Essa
desideologização do pleito de 2022, em linhas gerais, indica uma tendência
importante de PP, PSD, DEM, PL e Republicanos terem bancadas muito grandes
depois da eleição que acontecerá dentro de dois anos. Passarão com louvor pelo
teste da cláusula de barreira e darão cartas no próximo governo.
É
no sentido de facilitar a governabilidade e o de darem alguma musculatura a
quem tem pouca que estes cinco partidos serão muito disputados para alianças na
próxima eleição presidencial.
PP
e Republicanos já indicaram de forma claríssima a possibilidade de apoio a uma
candidatura presidencial de Bolsonaro. É comentada a hipótese do presidente se
filiar a um desses dois partidos.
A
adesão ao bolsonarismo é muito menor em relação ao DEM e PSD. O DEM herdará o
governo de São Paulo caso o tucano João Doria dispute a Presidência, o que não
é pouco. O presidente da sigla, ACM Neto, sequer coloca à mesa um nome próprio
para negociar alianças de 2022, o que é sugestivo. O presidente do PSD,
Gilberto Kassab, coloca alguns, para valorizar o passe, e daí citou em
entrevista à “Folha” os senadores Antonio Anastasia e Otto Alencar.
Os
partidos que mais amealharam prefeituras podem dar ossatura para Bolsonaro e
Doria na eleição presidencial de 2022, mas obviamente não lhes fornecem os
votos para se elegerem. A dinâmica presidencial é outra. Permitem antever
apenas, no caso de vitória de um ou de outro, base parlamentar relativamente
tranquila para governar.
Pode-se
perguntar onde está o MDB nesta análise. O MDB é um esteio da governabilidade
que esmaece. Tinha 1.194 prefeitos depois das eleições de 2008, às vésperas de
fechar a parceria Dilma/Temer vencedora de duas presidenciais. Era 35% maior do
que hoje. O MDB hoje é mais uma entre as legendas que se candidatam a fiel de
balança.
O
jogo da esquerda é disputado nas grandes cidades. Guilherme Boulos mudou de
patamar na política nacional, ainda que perca a eleição paulistana, como é
provável. O PT não poderá olhar mais o Psol com a condescendência de um irmão
mais velho, como faz hoje. Se José Sarto ganhar em Fortaleza, o PDT e Ciro
Gomes se preservam do vexame das apostas erradas no Rio de Janeiro, Porto
Alegre e São Paulo.
O
duelo entre Marília Arraes (PT) e João Campos (PSB) pela Prefeitura do Recife
terá consequências na eleição presidencial de 2022. A vitória de Marília tende
a ameaçar a hegemonia do PSB no governo de Pernambuco e deste modo situar a
sigla de modo definitivo no antipetismo. Pode ser uma boa notícia para Ciro.
Ganhando
ou perdendo em Porto Alegre, Manuela d’Ávila será uma estrela a brilhar com
força no PCdoB, partido condenado a morrer pela cláusula de barreira. É
provável que o PCdoB, com o governador do Maranhão Flávio Dino à frente,
procure uma incorporação branca a alguma sigla de esquerda ou centro-esquerda
mais capacitada a sobreviver. PT parece o caminho mais natural, mas de nenhum
modo é a única saída que resta.
E Luciano Huck? O apresentador de TV e candidato a ser um presidenciável pouco ou nada tem a ver com as eleições municipais. Sua possível candidatura dependerá do fracasso de outros atores. Huck se viabiliza caso tudo ou quase tudo dê errado para Doria e Bolsonaro. Vencida esta peneira, ele procurará os esteios da governabilidade já mencionados.
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