sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Ricardo Noblat - Rio, São Paulo e Recife – Uma eleição liquidada, duas indefinidas

- Blog do Noblat | Veja

O peso do imprevisto

Uma das marcas das eleições no segundo turno é o tempo curto de campanha. Outra, que o candidato que sai na frente nas pesquisas de intenção de voto quase sempre vence. São raras as exceções.

Um caso: em 1994, o jornalista Hélio Costa disputou o governo de Minas Gerais e só não se elegeu no primeiro turno porque lhe faltaram 1,2% de votos. Acabou derrotado no segundo.

Outro caso: em 2.000, prefeito do Recife, Roberto Magalhães foi candidato à reeleição. Não venceu no primeiro turno à falta de 0,5% dos votos. Perdeu no segundo por uma diferença de 0,4%.

Salvo um imprevisto de grande dimensão, a eleição para prefeito do Rio está liquidada em favor de Eduardo Paes (DEM). Na nova pesquisa Datafolha, ele bate Marcelo Crivella por 71% a 29%.

Apenas no segmento dos evangélicos é que Crivella derrota Paes por 45% a 34%. Há 4 anos, Crivella elegeu-se fugindo do rótulo de bispo da Universal. Agora, agarra-se ao rótulo. Não tem salvação.

Crivella desembarcou em Brasília para pedir ao presidente Jair Bolsonaro que gravasse mais um vídeo recomendando o voto nele, e que o acompanhasse em uma caminhada no Rio.

Bolsonaro topou gravar o vídeo, mas caminhar ao lado de Crivella, não. Era só o que lhe faltava. O Rio é o berço político de Bolsonaro e ali, este ano, ele foi amplamente derrotado.

São Paulo e Recife são as duas eleições indefinidas, embora a diferença entre o primeiro e segundo colocados não seja desprezível. É de 16 pontos em São Paulo, e de 10 no Recife.

Bruno Covas (PSDB) lidera em todas as regiões de São Paulo. Entre os mais pobres, supera Guilherme Boulos (PSOL) por 60% a 40%. Entre os menos instruídos, por 68% a 32%.

Vence por 53% a 47% entre os que têm curso superior. E entre os evangélicos por 62% a 38%. Boulos derrota Covas por 59% a 41% entre os mais jovens. Só aí lidera.

Porém… A história das eleições em dois turnos ensina também que um candidato que aparece nas pesquisas com menos de 60% dos votos válidos ainda corre perigo. Qualquer descuido pode ser fatal.

Se Covas tem 16 pontos percentuais de vantagem, quer dizer que se perder 8 a eleição fica empatada, porque numa eleição com dois candidatos os votos só costumam migrar de um para o outro.

Entre os que dizem que votarão em Covas, 18% admitem mudar de ideia. Em Boulos, 17%. Entre os eleitores que pretendem votar em branco ou nulo, 21% poderão optar por um dos dois candidatos.

Marília Arraes (PT) chegou atrás de João Campos (PSB) no primeiro turno da eleição no Recife – ele com 29,13% do total de votos válidos, ela com 27,90%. O vento mudou de direção.

Parte dos votos dados ao que ficaram em terceiro e quarto lugares já correu para Marília. Cerca de 70% dos votos dos recifenses no primeiro turno expressaram o desejo de mudança.

E a mudança, no segundo turno, é Marília. Sua derrota significaria a continuidade de um período de 14 anos de dominação política do Estado pelo PSB de Campos, e antes do seu pai Eduardo.

Durante debate, ontem, em uma emissora de rádio do Recife, Campos perguntou a Marília quem mandará na prefeitura no caso de sua vitória – se ela ou se o PT.

Marília respondeu que ela mandará, e sugeriu que Renata, mãe de Campos, é quem mandaria se ele vencesse. Foi o momento mais tenso do debate. Campos engoliu em seco.

Bolsonaro torce para que Boulos derrote Covas

Acha que para sua reeleição em 2022 seria melhor

Naturalmente, ele não admitirá em público. Bateria de frente com seus seguidores, seria acusado de só pensar na própria reeleição e poderia prejudicar Guilherme Boulos (PSOL).

Mas Jair Bolsonaro concluiu que só terá a ganhar politicamente se Boulos derrotar Bruno Covas (PSDB). Ele escolheu o governador João Doria (PSDB) como seu maior inimigo em 2022.

Uma derrota de Covas enfraqueceria o projeto de Doria de disputar a próxima eleição presidencial. E a Doria, Bolsonaro atribuiria o fortalecimento da esquerda em São Paulo.

De resto, sem Lula no páreo como candidato do PT, Bolsonaro faria de Boulos e do PSOL o seu saco de pancada preferido, ignorando Doria. Para ele, polarizar a eleição com a esquerda é preciso.

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