Para
quem gosta de acompanhar uma disputa em família, a eleição do Recife é diversão
garantida. Os primos João Campos e Marília Arraes travam uma batalha renhida pela
prefeitura. Eles duelam pelo espólio político de Miguel Arraes, governador de
Pernambuco por três mandatos.
O
filho de Eduardo Campos é candidato pelo PSB. Ele encarna o papel do príncipe
herdeiro. Sua coligação reúne uma dúzia de partidos e conta com as máquinas do
estado e da prefeitura.
Marília,
a ovelha desgarrada, rompeu com o pai do rival em 2014. Acusava Eduardo de
controlar a legenda com “mão de ferro” e de fazer tudo pelo poder. Ele se aliou
a adversários históricos do avô e chegou a governar praticamente sem oposição.
Depois
do acidente que matou o presidenciável, a dinastia acelerou a preparação do
sucessor. Aos 22 anos, João virou chefe de gabinete do governador Paulo Câmara.
Aos 24, tornou-se o deputado mais votado do estado. Aos 26, tenta se eleger
prefeito.
A
escalada pode ser interrompida por Marília, que migrou para o PT em 2016. Aos
36 anos, ela já mostrou que é boa de briga. Desafiou a direção regional do
partido e se lançou com o aval do ex-presidente Lula, que havia vetado sua
candidatura ao governo na eleição passada.
Ontem
os primos se enfrentaram no primeiro debate do segundo turno. Quase saiu
faísca. João acusou Marília de prometer cargos a figurões do PT sem mandato.
Marília chamou João de “imaturo” e sugeriu que ele cumpre ordens da mãe. “Quem
é que vai mandar na prefeitura? Comigo, as pessoas sabem. Com você, a gente
fica sempre na dúvida”, provocou.
Os
dois trocaram estocadas sobre alianças à direita. “Causa estranheza você estar
se aliando com aqueles que chamam Lula de ladrão”, disse ele. “O palanque
salada russa é o seu, tem do PCdoB ao partido dos filhos de Bolsonaro”,
devolveu ela.
O candidato do PSB foi o mais votado no primeiro turno. Ontem o Datafolha informou que o vento virou no Recife. Marília ultrapassou João e agora lidera com dez pontos de vantagem: 55% a 45% em votos válidos.
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