Se
quiser assegurar um lugar no futuro, PT precisará superar Lula
Como
epidemias em países continentais, resultados eleitorais precisam ser analisados
com cautela. São várias coisas diferentes acontecendo ao mesmo tempo, o que
tende a produzir miragens.
Se
olharmos para o número absoluto de prefeituras, o bloco dos partidos
considerados de esquerda, PT, PDT, PSB, PCdoB, Rede e PSOL, perdeu posições em
relação ao ciclo anterior. Em 2016 eles haviam conquistado 1.088 paços
municipais. Neste ano, foram, até aqui, 795.
O
problema de olhar apenas para os números absolutos é que homegeneizamos coisas
muito diferentes. Nessa métrica, Serra da
Saudade, com 781 habitantes, vale tanto quanto São Paulo, com mais
de 12 milhões. Grotões tendem a responder com muita lentidão às mudanças
políticas. Se quisermos ter uma ideia mais precisa de para onde os ventos
sopram, devemos dirigir o olhar para os maiores centros urbanos. E neles a
esquerda parece retomar protagonismo.
Das
95 cidades com mais de 200 mil eleitores, em que o segundo turno é
possível, 57 voltarão
às urnas. A esquerda está em 28 dessas corridas. No ciclo anterior,
foram 26, mas o PT, que chegara a apenas sete segundos escrutínios (e perdeu
todos), agora participa de 15 —é a legenda que disputa mais returnos.
É
impossível, porém, deixar de observar que o PT perdeu espaço para siglas de
esquerda menores em duas das cidades mais importantes do país. Em São Paulo e
Porto Alegre, Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela
d'Ávila (PCdoB), empurrados principalmente pelo voto de jovens,
roubaram um espaço em que o PT tinha cadeira quase que cativa.
E isso nos leva para o dilema de Lula. O ex-presidente ainda tem popularidade demais para deixar de ser o centro de gravidade da legenda, mas tem má fama o bastante para alienar do partido segmentos relevantes do eleitorado. Os casos de São Paulo e Porto Alegre mostram que, se o PT quiser assegurar um lugar no futuro, precisará superar Lula.
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