Por
Carolina Freitas e Cristiane Agostine / Valor Econômico
São Paulo - Os partidos de centro e de centro-direita têm enfrentado dificuldades para definir quem será a chamada terceira via de 2022. Com a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao cenário eleitoral, dirigentes de legendas como PSDB, DEM, PSD, MDB e Cidadania afirmam que é preciso construir uma candidatura única para o grupo ter viabilidade eleitoral. No entanto, não há consenso sobre qual nome poderá chegar às urnas com força para ir a um eventual segundo turno em uma disputa que tende a ser polarizada entre Lula e o presidente Jair Bolsonaro.
Há dúvidas e desconfianças sobre os nomes já colocados como pré-candidatos desse campo político: os governadores do PSDB João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS); o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM); o ex-governador Ciro Gomes (PDT) e o apresentador Luciano Huck (sem partido). Nenhum deles é visto como um candidato natural, com viabilidade para quebrar a polarização.
Dirigentes
de partidos de centro-direita têm dúvidas da intenção de Luciano Huck de deixar
de lado a carreira como apresentador para embarcar em uma candidatura à
Presidência. Sobre Mandetta, ponderam se o ex-ministro da Saúde conseguirá
manter a popularidade que tinha ao deixar o governo Bolsonaro, em abril de 2019,
e se terá força para projetar-se nacionalmente.
Em
relação ao PSDB, lideranças desse campo político avaliam que o partido deve
insistir em ter candidatura própria e ponderam que a escolha de Doria ou de
Leite tende aprofundar as divergências dentro da sigla, dificultando ainda mais
a construção da unidade da centro-direita.
A
pré-candidatura de Ciro é vista como a mais “problemática”. Ao acenar à
esquerda e à direita, Ciro é visto como um “candidato de suas próprias ideias”
e que poderia não representar esse grupo político.
Sem
um nome forte ainda, os partidos de centro-direita pretendem deixar a definição
de quem poderá ser o candidato para o segundo semestre ou início de 2020. O
prazo para filiação partidária a quem quiser se candidatar vai até abril do próximo
ano.
Lideranças
desse campo político, no entanto, reforçam a necessidade de não repetir a
pulverização de candidaturas que marcou a eleição presidencial passada e
reconhecem que em 2022 terão de chegar a um nome de consenso. “O centro precisa
ter uma candidatura. Não dá para ser três ou quatro”, afirma um político com
experiência de oito eleições, articulador da terceira via e um dos conselheiros
do apresentador e empresário Luciano Huck.
Em
2018, o país teve 13 candidatos no primeiro turno, sendo que 8 deles se
identificavam com o centro, mais à direita ou mais à esquerda. É o caso do
ex-governador Geraldo Alckmin, do PSDB, e dos ex-ministros Marina Silva, da
Rede; Ciro Gomes, do PDT; e Henrique Meirelles, do MDB.
A
candidatura única de centro que começa a ser gestada deve unir políticos
liberais reformistas e social-democratas, mas há tentativas de atrair quem
esteja um pouco mais à esquerda, como Ciro. O ex-ministro tem mantido conversas
com políticos do DEM e do PSD. Ainda resiste, no entanto, à possibilidade de
abrir mão da candidatura por um nome de consenso. Ciro foi procurado pela
reportagem por meio de sua assessoria, mas não comentou sobre a
pré-candidatura.
A
primeira sinalização pública dessa abertura para negociação foi dada pelos dois
tucanos, que disseram não fazer questão de serem em 2022 candidatos a
presidente. Leite deu um passo além e afirmou que o candidato de centro não
necessariamente precisava vir do PSDB. Foram gestos para abrir espaço e atrair
para o diálogo político de outros partidos, na busca por um projeto comum.
Outro movimento foi do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que declarou,
entre Lula e Bolsonaro, votar no petista. “São sinais para desanuviar o
ambiente”, afirma um político a par das articulações da terceira via. “Esses
sinais deixam claro que existe uma escala hierárquica de problemas no país e
que Bolsonaro está no topo dela.”
Há
sinais divergentes, no entanto, emitidos por tucanos. O partido já marcou
prévia para este ano, em outubro, para definir o candidato no PSDB. Em recente
entrevista ao “UOL”, o presidente nacional da legenda, Bruno Araújo, disse que
em uma eventual disputa entre Lula e Bolsonaro, preferia “levar um tiro”. Com
isso, afastou a possibilidade de diálogo com a esquerda, com vistas à frente contra
Bolsonaro em um eventual segundo turno. A reportagem tentou falar com Araújo,
mas não conseguiu contato.
Presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire afirma que ainda é preciso discutir sobre quem tem mais condições de representar esse campo político. “Nosso sentimento é de buscar a maior unidade possível, que não teve em 2018. Mesmo que não una todos os partidos, temos de escolher quem terá mais chance de vitória”, diz. Freire tenta atrair Huck para o partido, para lançar sua candidatura, mas o apresentador ainda não se definiu sobre 2022, segundo o dirigente. “Estamos aguardando”, afirma. “Nossa preocupação agora é nos unirmos para derrotar Bolsonaro. Mas o candidato só deve ser definido em 2022.”
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