Era
o que Pazuello e Bolsonaro esperavam para decidir se compravam ou não vacina
Nesta quinta (25), ao ir ao Planetário tomar uma legítima Coronavac —engarrafada no Brasil, certo, mas composta de, entre outros, autênticos cloreto de sódio, hidróxido de alumínio, hidrogenofosfato dissódico e 600 SU de antígeno do vírus inativado Sars-CoV-2 vindos da China—, lembrei-me de uma, entre tantas, imortal passagem do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Ao ser várias vezes perguntado sobre se o Brasil compraria a Coronavac, e já sem poder fugir à resposta, ele ejaculou a contragosto: "Sim. Se houver demanda".
Isso
foi no dia 8 de dezembro. Naquela tarde, o Brasil chegara a 177 mil mortos pela
Covid. Passara de 6,6 milhões de casos de infecção e a taxa de ocupação das
UTIs do Rio batera nos 100%. E, mesmo diante desses números, o general da Saúde
se perguntava se "haveria demanda", caso em que, mas só neste,
compraria a vacina. Como Pazuello declarou isso para todo o país pela
televisão, fica como um testemunho do interesse que ele e seu amo Jair
Bolsonaro tinham pelo assunto três meses atrás.
A
composição da vacina acima consta de uma bula da Coronavac que me foi ditada
por um amigo médico. Posso imaginar Pazuello lendo essa bula, com aquele jeito
de quem move silenciosamente os lábios ao ler alguma coisa e sem entender uma
palavra do texto. O que não fazia diferença, porque o verdadeiro ministro da
Saúde era Bolsonaro.
Enquanto
Pazuello se perguntava se "haveria demanda", uma pesquisa revelava que
69% dos brasileiros já queriam a vacina —qualquer uma. Pois quantos deles não
terão morrido porque Bolsonaro se recusava a comprá-la? Hoje, esse número é de
87,4 % —quase 9 em 10 brasileiros. Quantos, pela idade, não terão tempo de
chegar a ela?
Ontem, na fila da vacina, entre todos aqueles coroas de máscara, eu identificava em seus olhos uma só sensação: a de esperança. Com certeza, a mesma que eles viam nos meus.
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