Com
uniforme, seria inútil à guerra porque lhe falta raciocínio lógico; de terno,
não serve à paz
Jair
Bolsonaro só entende a linguagem da ameaça, seja como agente, seja como alvo.
E, nesse particularíssimo sentido, agiu bem Arthur
Lira, presidente da Câmara. O “mau militar” (segundo Ernesto Geisel)
está, como chefe do Executivo, abaixo da crítica: não fosse o morticínio em
massa, ele não valeria nem uma boa lista de insultos.
Com uniforme, seria inútil à guerra porque lhe falta raciocínio lógico, e todo tiro sairia pela culatra. Com o terno, não serve à paz. Está talhado para a arruaça e a briga de gangues. Não por acaso, o Exército o chutou. Ocorre que a política o capturou, e a Lava Jato o elegeu presidente. “Ah, foi o povo...” Eu sei. Segundo circunstâncias que não eram de sua escolha.
Até
a semana passada, Bolsonaro
buscava nos intimidar com um autogolpe. Lembro à margem: tinha parado com a
tara “putchista” depois da prisão de Fabrício Queiroz. Voltou a roncar papo
quando o STJ livrou a cara de Flávio. Corolário: ele só sabe ameaçar ou ser
ameaçado. Há uma pulsão aí, que a psicanálise poderia dissecar, para horror do
próprio.
Os
mais de 300 mil mortos não conseguiram silenciar sua pregação homicida. O
centrão perdeu a paciência e decidiu acenar com o impeachment. Foi o que fez
Lira na quarta-feira (24) à noite ao afirmar que estava “apertando um sinal
amarelo para quem quiser enxergar”. Observou: “Os
remédios políticos no Parlamento são conhecidos e são todos amargos. Alguns
fatais”. O remédio fatal de que dispõe o Congresso para quem conduz o país
à ingovernabilidade é o impedimento.
Esse
tal centrão não é um lugar nem um grupo determinado, mas um espírito. Desde a
redemocratização, apoiou todos os governos e garantiu, à sua maneira, que o
dinheiro público chegasse às suas bases eleitorais.
Alguns
de seus próceres, é verdade, são notórios ladrões, outros não. Mas também há
ladrões notáveis fora do grupo. Tenho cá minhas dúvidas, quando noto o apego ao
povo de certos especialistas, se uma burocracia formada por “jovens turcos”
(pesquisem o sentido da expressão) seria mais sensível aos problemas dos
pobres. A minha certeza quando leio a ata do Copom: não!
Lira
foi além das metáforas: “Não vamos continuar aqui votando e seguindo um
protocolo legislativo, com o compromisso de não errar com o país, se, fora
daqui, erros primários, erros desnecessários, erros inúteis, erros que não são
muito menores do que os acertos cometidos, continuarem a ser praticados”.
Bolsonaro
fez o acordo com o centrão para eliminar o risco de que a penca de
crimes de responsabilidade pudesse levá-lo ao impeachment. Todos lucraram. Mas
o pacto supõe um mínimo de governabilidade e de eficiência na gestão, que hoje
inexiste. O pior, alertam os cientistas, está por vir.
Mudo
de foco, mas não de assunto, já que foi a Lava Jato que trincou a xícara que
nos legou o país dos cemitérios. João
Pedro Gebran Neto, relator dos casos da Lava Jato no TRF-4, concedeu longa
entrevista a esta Folha. Disse que a operação é objeto de uma “guerra
de narrativas”. Logo, fala um narrador, não um juiz.
Eu
o desafio, de novo, a informar em quais páginas da sentença de Moro, que o
senhor endossou, com agravamento da pena, aparecem as provas da denúncia
apresentada pelo Ministério Público. Vai que tenham me escapado... Atenção,
doutor Gebran! Encontrei lá, e o senhor também, em palavras, o que Deltan
Dallagnol esquematizou no PowerPoint. Cobro as provas do que está na denúncia
recebida, como exige o devido processo legal. Ou estou errado?
Que o senhor seja um cara batuta e contrário à corrupção, bem, isso eu também sou. Até os corruptos dizem o mesmo. A questão é saber se a Justiça deve ser sequestrada por “jovens turcos”, alguns nem tão decentes. Deve?
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