sexta-feira, 26 de março de 2021

Hélio Schwartsman - Não vai dar certo

- Folha de S. Paulo

Adoraria estar errado, mas com Bolsonaro não há muita chance

Adoraria estar errado, mas creio que, com Jair Bolsonaro na Presidência, não há muita chance de que venhamos a ter um plano nacional de enfrentamento da Covid-19 minimamente coerente e eficaz.

O problema é que não dá para conciliar a personalidade do presidente, em particular as ideias em relação à Covid-19 de que ele não abre mão, como a fantasia do tratamento precoce e a resistência às medidas de isolamento social, com o que precisa ser feito. Não são comitês de emergência nem o novo ministro que irão demovê-lo de suas obstinações ou impedi-lo de interferir nas políticas de saúde.

É claro que é melhor ter um Bolsonaro pressionado, pelo centrão, por Lula, pelo PIB, pelas pesquisas de popularidade, do que um Bolsonaro solto para perseguir seus apetites naturais. Quando acuado, o presidente tende a fazer menos besteiras. Bônus extra: é divertido vê-lo contradizer-se tão flagrantemente como o fez em relação às vacinas.

Em termos de resultados, porém, não devemos esperar nenhuma grande mudança. São os governadores e prefeitos que, de forma pouco coordenada e às vezes até mal informada, seguirão determinando os rumos do combate à epidemia.

E a situação é bem pior do que parece. Já contamos mais de 300 mil mortos, e essa cifra ainda vai subir bastante. Com os hospitais em colapso, a mortalidade, tanto pelo vírus como por outras moléstias e acidentes, também tende a aumentar.

A tragédia não se mede só em cadáveres. Com as escolas funcionando precariamente há mais de um ano, é certeza que teremos coortes de alunos com sérias deficiências de conhecimento que carregarão por toda a vida.

Na economia, a situação difícil que já vivíamos antes da chegada do vírus se agravou sobremaneira. Estamos agora com uma dívida bem maior e com piores condições de geri-la.

A epidemia deixa rastros de destruição na sociedade brasileira que ainda sentiremos por vários anos.

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