O
cerco se fecha, o Congresso aperta e os palpiteiros querem que Bolsonaro deixe
de ser Bolsonaro
Todo
mundo sabia que a reunião de
presidentes dos três poderes com governadores era só
para tirar foto e reforçar o blablablá da “união nacional”, mas restava uma
dúvida: seria uma demonstração de força do presidente Jair Bolsonaro, ou a confirmação de
que Legislativo e Judiciário se articulam para cobrir o vácuo de poder – e de
competência e bom senso – deixado por Bolsonaro?
A
resposta veio rápido: Bolsonaro armou tudo para ser a estrela no palco, cercado
por ministros e governadores amigos, mas os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, recusaram o papel de
coadjuvantes de um presidente cada vez mais isolado. Horas depois, Lira usou o
plenário da Câmara para dizer que “o remédio legislativo (para erros e
incompetência) pode ser fatal”. Ou seja: lembrou que tem a caneta do
impeachment.
Já o senador Pacheco desistiu de ser diplomático quando o nada diplomático assessor internacional da Presidência, Filipe Martins, foi filmado, também no mesmo dia da reunião palaciana, fazendo um gesto obsceno durante sua fala na presidência do Senado. Pacheco sentiu na pele a beligerância, a grosseria e o descaso com a institucionalidade da turma que está no poder. E não gostou.
Bolsonaro
está acossado por banqueiros, empresários, economistas, investidores,
ambientalistas, educadores, médicos, enfermeiros, cientistas, estatísticos,
juristas, o mundo da cultura e o ambiente internacional. O Congresso não vai
afundar com ele, quando o Brasil atinge 300 mil mortos e as pessoas estão sem
UTI, sob risco de falta de oxigênio e medicamentos.
O
próprio presidente parece incapaz de entender a gravidade da situação e o
quanto ele é responsável por ela, mas o “sinal amarelo”, como disse Arthur
Lira, acendeu diante das pesquisas e das evidências de que ele não está
agradando... nem mesmo a seus apoiadores. Assim, os filhos, ministros e
assessores de Bolsonaro entraram em ação.
Eles,
porém, tentam o impossível: que Jair Bolsonaro deixe de ser Jair Bolsonaro e
assuma o personagem fake do pronunciamento de terça-feira: o defensor número um
das vacinas, que negociou pessoalmente com a Pfizer, comprou a Coronavac,
trabalhou incansavelmente no combate à pandemia. Tantas mentiras não resistem à
tonelada de vídeos de Bolsonaro defendendo exatamente o oposto, agarrado à
cloroquina. Foi ridículo, como os filhos anunciando que “vacina agora é a nossa
arma”. Agora?
Sobra
o plano B: arranjar bodes expiatórios, fritá-los e servi-los como canapés. Foi
fácil triturar o incompetente general Eduardo Pazuello, que sai do Ministério
da Saúde, entra na fila da Justiça Federal e dali vai para o ralo da história.
Como é facílimo dar a cabeça do chanceler Ernesto Araújo, não aos leões, mas à
sociedade brasileira.
Araújo
é o homem errado e no lugar errado, mas no governo certo, como Pazuello, os
quatro ministros da Educação, o do Meio Ambiente, os sei lá quantos secretários
de Cultura, o presidente da Fundação Palmares, o próprio Filipe Martins na
Assessoria Internacional.
O
que se esperar de um chanceler que era embaixador júnior e foi sabatinado pelo
deputado Eduardo Bolsonaro,
que fritou muito hambúrguer nos States? Um chanceler que considerava Donald Trump o único Deus capaz
de salvar o Ocidente do comunismo? Que bateu de frente com os EUA de Joe Biden? E com a China e a Índia, as
maiores produtoras de remédios e vacinas do mundo?
O embaixador disse e fez tudo isso com o mesmo intuito do general Pazuello: agradar a Bolsonaro, aos filhos e aos bolsonaristas de internet – que ditam as decisões do presidente da República. Resta saber se o novo chanceler será do Centrão ou só ao gosto do Centrão. Mas Jair Bolsonaro nunca deixará de ser Jair Bolsonaro.
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