Bolsonaro transformou política externa em aparelho de recreação da direita radical
Não
era possível esperar muito de uma política
externa que tinha como prioridades brigar com a China, mudar a
embaixada brasileira em Israel para atender aos evangélicos, lutar contra uma
conspiração globalista e conseguir um posto diplomático para o filho do
presidente. O fracasso de Ernesto Araújo como chanceler não é acidente.
O Itamaraty se tornou um obstáculo no combate à pandemia porque Jair Bolsonaro instalou ali uma estrutura que não trabalha pelos interesses do país. Explorada como um aparelho de recreação da ultradireita, a diplomacia brasileira não conseguiu produzir resultados num momento de crise aguda.
No
ano passado, o ministério organizou 12 seminários para discutir a conjuntura
internacional "pós-coronavírus". Em vez de debater formas de
colaboração para salvar vidas e conter prejuízos econômicos, boa parte dos
eventos reuniu polemistas ultraconservadores que chegavam a divulgar
informações duvidosas sobre a Covid-19 e o uso de máscaras.
Quase
todas as conferências davam palco para blogueiros, conspiracionistas e
discípulos do ideólogo Olavo de Carvalho. Foram chamados militantes
investigados por espalhar notícias falsas, um integrante da família imperial,
uma juíza que se notabilizou por estimular aglomerações na pandemia e o infame
assessor que fez no Senado um gesto
usado por supremacistas brancos.
Ernesto
é o mestre de cerimônias desse manicômio. O chanceler já disse que o país
deveria se orgulhar do status de "pária internacional" produzido pela
diplomacia do governo Bolsonaro. Graças a ela, o Brasil se tornou ator marginal
na geopolítica da pandemia e ficou no fim da fila dos insumos para a vacinação.
Sob pressão, o governo estuda substituir o ministro. O presidente do Senado avisou que a cobrança vai "além da personificação". "O que se tem que mudar é a política externa do Brasil", disse. Depois de ver o resultado de trocas na Saúde e na Educação, o país já sabe de onde escorre a essência do bolsonarismo.
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