Sistema de saúde colapsou
E
a História vai registrar que no dia 25 de março de 2021, quando foi batido mais
um recorde no número de mortes e de novos casos de coronavírus no Brasil, pelo
menos 6.370 pessoas estavam à espera de um leito de UTI, muitas sem conseguir
respirar direito por falta de oxigênio e de equipamentos de ventilação
mecânica.
O
número foi levantado pelo Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde.
Em São Paulo, são 1.500 pessoas na fila por um leito. Em Minas Gerais, 714. No
Rio, 582. E no Paraná, 501. O sistema público e privado de saúde entrou em
colapso. A doença está em alta em 25 dos 27 Estados, e mais no Distrito
Federal.
Segundo a Associação Nacional de Hospitais Privados, a maioria das unidades particulares do país tem estoque só para mais três ou quatro dias de medicamentos usados no atendimento de pacientes da Covid-19. “Isso significa que a gente chegou ao limite”, disse em tom de desespero Carlos Lula, o presidente do Conselho.
O
limite já foi ultrapassado. A saúde “é um direito de todos e dever do Estado”,
afirma a Constituição. Se jamais foi de fato um direito, agora virou um
privilégio de poucos. “Se o Ministério da Saúde não tomar medidas urgentes nas
próximas horas, o número de mortes diárias poderá passar da casa de 4 mil”,
prevê Lula
Nas
últimas 24 horas foram registradas 2.639 mortes de um total até agora de
303.726. Houve 97.586 novos casos da doença, o maior número desde o início da
pandemia há 1 ano. O vírus já infectou 12.324.765 brasileiros. Foi o nono dia
seguido com uma média de mortes superior a 2 mil, 8% a mais do que 14 dias
atrás.
Vacinados?
O total de vacinados com a primeira dose corresponde a 6,65% da população. Com
a segunda, 2,13%. Marcelo Queiroga, o novo ministro da Saúde, promete vacinar 1
milhão de pessoas por dia. A partir de quando? Não sabe e não se arriscaria a
dizer. Culpa do governo que não se mexeu para comprar vacina a tempo.
O
número de óbitos, disse o general Hamilton Mourão, vice-presidente da
República, “já ultrapassou o limite do bom senso”. Não disse quantas mortes
poderiam ter sido admitidas sem ferir o bom senso. Mas descartou um lockdown
nacional por impossível de ser implantado: “Vai ficar só no papel”.
O
lockdown também foi descartado pelo ministro da Secretaria-Geral do governo,
Onyx Lorenzoni, que só repete o que escuta de Jair Bolsonaro: “Alguém consegue
impedir que passarinho, cão, gato, rato e formiga se locomovam? Alguém consegue
fazer lockdown dos insetos?”. Lorenzoni é tão raso quanto um pires.
O
ministro da Economia, Paulo Guedes, propôs como saída um “isolamento mais
inteligente e mais seletivo” para frear a alta nos contágios pelo vírus. Não
disse como seria. Deve ser algo como “democracia à brasileira”, ou “democracia
relativa”, ou “democracia autoritária”. À brasileira, só peru de Natal.
Palavras
são traiçoeiras para quem sabe usá-las como Guedes, e para quem tem
dificuldades como Mourão e Lorenzoni. Bolsonaro é um caso à parte. Foi mau
aluno na escola primária. E reconhece nunca ter lido um livro – nem mesmo o do
coronel torturador Brilhante Ulstra, que apenas deu-se ao trabalho de folhear.
A
cabeça de Araújo pode ficar para ser decepada mais adiante
Sangrar
e deixar sangrar
Entregar
numa mesma bandeja as cabeças do ministro Ernesto Araújo, das Relações
Exteriores, e de Filipe Martins, o falso judeu que ostenta o pomposo título de
assessor para assuntos internacionais, seria para o presidente Jair Bolsonaro
sinal de que se tornou refém do Centrão, o que ainda não aconteceu de todo.
A
cabeça de Martins até que faria sentido decepar, afinal, ele se comportou como
um moleque e respondeu com um gesto claramente racista aos ataques que Araújo
sofreu ao ser sabatinado por senadores sobre política externa, o que não é seu
forte, convenhamos. Seu forte é agradar a Bolsonaro.
A
demissão dos dois faria bem ao governo, mas não é disso que se trata, é do
presidente e dos filhos dele. Martins está onde está por ser discípulo do
autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, guru de Flávio, Carlos e,
principalmente, Eduardo. Araújo, por fazer tudo o que Bolsonaro manda, e nada
mais além. Tem juízo.
O
Centrão avança cada vez com mais apetite sobre um governo que se fragiliza. Ao
aprovar o Orçamento da União de 2021, arrancou 26 bilhões de reais a mais do
que inicialmente previsto para emendas parlamentares destinadas a obras e ações
de deputados e senadores. Dinheiro à beça às vésperas de ano eleitoral.
Não
tem do que se queixar. Abocanhar a vaga de Araújo poderá ficar para outra
ocasião. Bolsonaro só faz sangrar e descer ladeira.
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