Bolsonaristas
têm um trabalhão para seguir o salto triplo do ‘mito’ em saúde, política
externa e ambiente
Depois
de rasgar as bandeiras do combate à corrupção e do liberalismo econômico, o
governo Jair Bolsonaro está
desmoronando o seu tripé ideológico: saúde, política externa e ambiente. Isso,
claro, cria um problemão para a sua seita, sobretudo na internet. Eles e elas
terão de rever suas crenças e posições para seguir essa “inflexão”, ou salto
triplo carpado, do presidente. Vão defender Joe Biden, França,
Alemanha e Noruega? Cúpula de Paris, Fundo da Amazônia? Até China e vacina?
Não
deve ter sido fácil para os bolsonaristas se alinharem com o PT no
ataque ao ex-juiz Sérgio Moro, ícone do
combate à corrupção, quando ele caiu acusando Bolsonaro de interferência
política na Polícia Federal. E não está fácil jogar Paulo Guedes ao
mar, depois do blablablá de que Bolsonaro podia não ser lá essas coisas, mas o
Guedes segurava as pontas.
E lá se vai também o tripé ideológico. O diplomata Ernesto Araújo está de volta à sua insignificância e ao limbo dos seus delírios contra o comunismo. O general da ativa Eduardo Pazuello vaga pelo Exército, olhado de esguelha pelos companheiros de farda depois de humilhado e desautorizado pelo presidente na compra de vacinas e de se sair com o indecente “um manda, outro obedece”. Ambos, Araújo e Pazuello, estão na mira da CPI da Covid.
Com
o cerco se fechando contra Ricardo Salles,
Bolsonaro repete o script: elogia, leva para lives e confraternizações, dá
tapinha nas costas e planta notinhas sobre o quanto gosta do ministro. Quanto
mais o torniquete aperta, mais Bolsonaro prestigia seu ministro. Mas... quanto
mais prestigia, mais o ministro esfarela.
Então,
vejam como é a dura a vida de bolsonarista. Esquece Ernesto Araújo e o que ele
fazia e dizia, para enaltecer o sucessor, Carlos França, e fazer juras de amor
para China, França, Alemanha, Noruega, até para a Argentina de Alberto
Fernández? E Joe Biden, chamado de “gagá”, “sequelado” e “esquerdista”, virou
um cara legal.
E,
agora, com Pazuello fora e o médico Marcelo Queiroga tentando
correr contra o tempo e contra os erros gravíssimos na pandemia? Os e as que
papagaiavam Bolsonaro, trocavam ciência por ideologia e comparavam as vacinas à
talidomida, que matou e mutilou na década de 1950, correm para oferecer o braço
e salvar suas vidas. Não consta que nenhum deles tenha virado jacaré...
Com
os “novos” política externa e Ministério da Saúde, quem tem estômago deveria
entrar nas redes para ver os bolsominions conclamando todos a se imunizarem e
defendendo “aquela vacina chinesa do Doria”, que, na verdade, é praticamente a
única maciçamente disponível no Brasil. Vencem a realidade e a racionalidade.
Viva a China! O Butantan! A vacina! E viva a vida!
Mesmo
antes do “novo Ministério do Meio Ambiente”, vem aí o novo discurso de
Bolsonaro sobre sustentabilidade: antecipar a neutralidade das emissões para
2050, acabar com desmatamento ilegal até 2030, dobrar a verba para fiscalização
já. Dá-lhe racionalidade! Viva a Amazônia! As leis ambientais! E viva o Biden,
líder da causa ambiental no mundo!
Faltam:
um pedido de desculpas ao cientista Ricardo Galvão, demitido do Inpe por
alertar para desmatamento da Amazônia; resgatar o Ibama e o ICMBio; reativar as
multas ambientais; cobrar compromissos com os indígenas. Bolsonaro quer
escancarar as reservas para mineração, agricultura, turismo... Mas não tocou
nisso na cúpula do clima.
O Brasil não tem só governo, um governo rechaçado no mundo inteiro. Tem cidadania, instituições, entidades, atores das mais variadas frentes, na pandemia, na política externa e no ambiente. Salvar o planeta é aqui e agora! Goste ou não Bolsonaro, ele é obrigado a cair na real. Governos vêm, governos vão, o Brasil fica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário