Nunca
tinha visto os teletubbies até o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles,
chamar Anitta assim, em resposta a um tuíte da cantora na hashtag #ForaSalles.
Ele escreveu irado: “Fica na sua aí, ô Teletubbie”. Eu sabia que os teletubbies
eram uns personagens coloridos e barrigudinhos, com antenas. Pesquisei, por
achar inusitado um ministro reagir assim nas redes. Anitta tinha chamado Salles
de “desserviço ao meio ambiente”. A cantora foi até elegante com um ministro
acusado de vilão, crápula e criminoso.
A série de desenho infantil foi criada pela BBC nos anos 1990. Os quatro teletubbies pulam, rolam no chão, e sua fala é idiotizada. Suspeito que retardem o cérebro de bebês. Tinky Winky, Dipsy, Laa-Laa e Po são ridículos e toscos. Tem um, o roxo, “acusado” de ser homossexual, “um perigo” para as crianças. Os quatro bonecos enrolam as sílabas nos desenhos – e o que deveria ser LGPD (lei geral de proteção de dados) se torna LGBT, acho que vocês me entendem. O Carluxo entende, vai. Não é piada. O filho vereador de Bolsonaro, indignado com “gente que se autodenomina tigre, leão, jacaré, papagaio, periquito”, confundiu acesso a dados com orientação sexual. Não foi surpresa, ninguém o leva a sério, é um teletubbie completo.
O
ministro do Meio Ambiente ficou magoado com a campanha de mais de 100 mil
brasileiros no Twitter, às vésperas da Conferência do Clima: era #ForaSalles
pra cá e pra lá. Uma injustiça. Só porque ele desmontou toda nossa fiscalização
ambiental, exonerou quatro superintendentes do Ibama, botou policiais militares
na diretoria do ICMBio e agora quer criar milícias amazônicas com ajuda do
exterior. Ainda bem que houve um “almoço de desagravo” comandado pelo ministro
das Comunicações Fábio Faria, com o beneplácito do presidente. Tinha costelão e
a presença do presidente da Câmara Arthur Lira, que papelão. Todos, claro, sem
máscara, isso é coisa para a Rainha Elizabeth.
O
ministro, que há um ano prometeu “passar a boiada” às escondidas, tem mesmo um
jeitão de viver na Teletubbilândia, entre alienígenas. Só o descolamento da
realidade explica que Salles tenha postado em seu perfil uma foto sorrindo à
frente de toras de árvores cortadas no Pará. Eram parte da maior apreensão de
madeira ilegal feita em nossa história pela Polícia Federal. Salles diz que é tudo
legal. Digamos que fosse. Essa foto, de um ministro de meio ambiente num país
que bateu recorde de desmatamento em março, é um monumento ao teletubbbismo.
Mal comparando, nem Pazuello ousou essa façanha: posar sorrindo numa UTI ou em
cemitérios.
Salles
é aliado dos madeireiros, mineradores, grileiros e garimpeiros que agem na
Amazônia e deve ser investigado por cumplicidade no crime de devastação da
floresta. O chefe da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Saraiva, foi
defenestrado. Acusou o ministro de patrocinar “organização criminosa
especializada no tráfico nacional e internacional de madeira”. Está no Supremo
a notícia-crime.
Salles é apontado por muitos como o pior ministro do Meio Ambiente do Brasil. Não fala tão mal quanto os ex colegas Abraham Weintraub, Ernesto Araújo e general Pazuello, todos demitidos contra a vontade de Bolsonaro. Salles apenas está na pasta errada, como os outros três citados, que boicotavam educação, diplomacia e saúde. Ele é contra a floresta, contra os índios, contra árvores em pé. O ministro foi profético ao citar os teletubbies. Chequem clipes da série. Há uma frase clássica: “É hora de dar tchau”. Não são tão bobos os bonecos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário