Uma
constante do presidente em 28 meses de mandato é nunca recuar; ao contrário:
ele sempre piora o que fez no dia anterior
Quem
era aquele presidente que, nesta quinta, falou em lugar de Jair Bolsonaro na
Cúpula de Líderes Sobre o Clima? O mesmo que, no dia anterior havia participado
do almoço de desagravo ao ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, na casa do
dito "moderado" Fábio Faria, ministro das Comunicações? Obviamente
não. E aí mora o problema. A reação à fala, mundo afora, é de desconfiança.
Uma
pausa para uma consideração: quando o "moderado" do governo oferece
um costelão amigo a Salles, cercado pela nata do reacionarismo, o que se
deve esperar dos não moderados? No dia anterior, o homenageado havia feito
pouco caso dos povos indígenas, com seu habitual humor truculento, destacando
que há índios com iPhone, num esforço claro de deslegitimação das demandas
dessas comunidades.
Na terça ainda, o delegado Alexandre Saraiva foi apeado da Superintendência da Polícia Federal do Amazonas, depois de trombar com Salles, que resolveu se solidarizar com madeireiros do Pará, apontando falhas inexistentes na operação, empreendida em dezembro do ano passado, que resultou na maior apreensão de madeira ilegal da história.
Em
entrevista a O Globo, Saraiva afirmou que só apresentara ao Supremo uma
notícia-crime contra o ministro porque, afinal, ele detém foro especial. Não
fosse assim, teria instaurado ele mesmo um inquérito por obstrução da
investigação e advocacia administrativa. E lá estava Salles, na quarta, sendo
aquinhoado com uma costela assada, prestigiado, note-se, pelo chefe —o mesmo
que prometeu, nesta quinta, mundos ao mundo --desde que este lhe dê os fundos.
O
discurso de Bolsonaro, em si, é bom. Mas quanto ele realmente vale? Esse
presidente prometeu, na campanha eleitoral, extinguir o Ministério do Meio
Ambiente. E, com efeito, tentou subordinar a área à pasta da Agricultura.
Diante da grita nacional e internacional, recuou, mas avançou na pauta
reacionária: chamou Salles. E este se encarregou de fazer "passar a
boiada".
E
que se note: essa metáfora só vale para bois clandestinos. O agronegócio que
conta quer distância das delinquências ambientais em curso e busca descolar a
sua agenda das ações oficiais. Temos hoje um governo que é nefasto à
preservação ambiental e também aos negócios.
Ao
fim de seu 28º mês de mandato, é preciso que se destaque uma constante em
Bolsonaro. Ele não recua nunca, pouco importando a eficácia ou não das escolhas
que faz. É uma característica dos fanáticos. O resultado adverso reforça as
suas crenças. Se uma determinada medida se mostra inútil ou contraproducente,
atribui o revés à falta de convicção ou de energia na sua aplicação. E então
manda dobrar a dose do remédio errado —cloroquina ou qualquer outro.
O
presidente que agora passa o pires na Cúpula do Clima, afirmando que o Brasil
precisa de dinheiro para preservar suas florestas —e precisa!— mandou um
recado, em agosto de 2019, à primeira-ministra da Alemanha, que decidira
suspender recursos enviados ao Brasil: "Eu queria até mandar um recado
para a senhora querida Angela Merkel (...) Pegue
essa grana e refloreste a Alemanha, ok? Lá está precisando muito mais do que
aqui".
Então
o presidente muda de ideia? Há uma diferença entre reconhecer um erro, tomando
outro rumo, e fazer apenas a mímica da mudança, a
exemplo do que se verifica na Saúde. Há quem pense que devemos considerar
uma vitória da moderação termos um ministro que usa máscara em público e que
reconhece a urgência da vacinação. O presidente, ele mesmo, continua a
incentivar a barbárie virótica em meio a 400 mil mortos.
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