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Folha de S. Paulo
Discurso
acaba escancarando que ele nunca passou de uma farsa
Longe
de mim duvidar da virilidade do presidente Jair Bolsonaro, mas estou achando
que não foi só ao fazer a filha que ele “deu
uma fraquejada” (são palavras
dele, não minhas).
Seu discurso
na Cúpula do Clima também me pareceu emasculado, já que o presidente
deixou de frisar que temos soberania plena sobre a porção da floresta que está
em nosso território, não denunciou a sórdida campanha contra o Brasil movida
por potências estrangeiras de olho em nossas riquezas nem chamou de feia a
mulher de nenhum chefe de Estado. Basicamente, Bolsonaro pôs o rabo entre as
pernas.
Ironias à parte, para os que nunca confiaram na palavra do presidente, o
discurso adamado não traz muita surpresa. A única coisa consistente na carreira
de Bolsonaro, do baixo oficialato à Presidência, são as tentativas de eximir-se
de culpa sempre que a situação aperta. Mas, para os eleitores que lhe louvavam
a autenticidade, o súbito abandono da valentia pode soar como mais uma traição.
Depois
de ter se aliado aos “bandidos do centrão”,
abandonado o combate à corrupção e esquecido o liberalismo econômico, Bolsonaro
agora desiste de defender a Amazônia da cobiça de estrangeiros.
Talvez a culpa seja do “ghost writer”, mas há um elemento novo na forma como o
presidente mentiu ao mundo nesta semana. Bolsonaro destacou os êxitos do Brasil
no campo da preservação ambiental, tratando-os como se fossem seus, e cuidou de
esconder os retrocessos verificados em sua administração.
O
detalhe é que os sucessos no combate ao desmatamento ocorreram majoritariamente
sob gestões petistas, o que colocou Bolsonaro na incômoda posição de ter de
louvar realizações de seus arqui-inimigos e precisar omitir as suas.
Discursos
de presidentes em reuniões de cúpula dificilmente revelam algo de interessante;
o de Bolsonaro, porém, de modo até certo ponto inesperado, acaba escancarando
que ele nunca passou de uma farsa.
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